Já sabia que ia aí vir um boss quando entrasse no nevoeiro (a mensagem no chão deixada por um jogador desejava-me boa sorte) mas não esperava um gajo de metal de uns bons oito metros de altura com uma lança gigante mesmo à minha frente. Tipo, gigante mesmo. E, hesitando, morri à primeira com um golpe de uma lança com uma lâmina maior que eu. E perdi todas as almas que tinha acumulado. E voltei ao início do nível - com todos os inimigos que tinha matado, ressuscitados. Os mesmos que depois me mataram antes de conseguir voltar a entrar na torre com o boss, recuperar o meu corpo, e apanhar as minhas almas. que perdi todas, definitiva e imperdoavelmente. no meio de gemidos de frustração e, ainda assim, uma certeza: "a culpa é tua. Foste impaciente, não jogaste com cuidado, e agora olha."
O jogo que estou a falar chama-se Demon's Souls, é um RPG hack n' slash que saiu no final de 2009, e foi considerado, por várias publicações da especialidade, como o melhor rpg do ano, e figurou em muitas mais nos seus invariáveis top 10. A malta adora tops. Diziam ser muito viciante, atmosférico, imersivo, e com uma grande profundidade de acções e controlos. E também diziam ser difícil. Muito, muito difícil. Dos jogos mais difíceis - se não o mais difícil - a sair, para o mainstream, nos últimos anos (não confundir com jogos como este). Extraordinariamente difícil. E - imagine-se! - era, precisamente, o que o tornava tão bom.
Estás a brincar? É claro que tinha de o comprar. Há quanto tempo é que eu não jogava um rpg hack n´slash com qualidade? Espera, scratch that. Há quanto tempo é que eu não jogava um rpg decente? Espera (outra vez), eu lembro-me. Fallout 3. Há mais de um ano atrás. Não interessa. Um ano acaba por ser muito tempo. Havia, no entanto, um problema. Por alguma razão que desconheço o jogo não saiu na Europa. Não era bem um problema. Ignorei só um bocado a coisa - era só mais um jogo que queria, com algum interesse, experimentar.
Até há duas semanas atrás, quando passeava na fnac e vi este colosso de menino numa edição deluxe (que tinha lá dentro? que interessava! Vim a saber depois: um guia compreensivo para o jogo com um walkthrough que, embora de início tenha ignorado, me deu umas boas dicas passado algum tempo, um style book com a banda sonora do jogo, muito boa, por sinal, e o próprio jogo com mais um livrinho, por mais dez aéreos) a sorrir para mim e bem be, os descontos da fnac vêm mesmo a calhar pa este tipo de coisas. Tinha começado há uma semana atrás o dragon age: origins (que meeeeeeerda! pior. compra. de sempre. Nos tempos contemporâneos, pelo menos. Note to self: nunca mais comprar nada da bioware. é sempre a mesma merda textual pretensiosa e o combate é sempre igual. Quem não gostou do kotor, como eu, acho que nunca vai gostar denada que estes gajos façam. fail da minha parte. adiante), mas: caguei pó assunto. enfiei o menino dentro da ps3 e, meu deus.
GANDA JOGO. No começo estava a sentir-me pretty fucking good, actually - do género, heh lá isto até está a correr bem e o camandro e tal, hãaa, hãaa? Tinha escolhido uma classe que o guia me dizia não ser boa para os principiantes, mas caga, só o nome dizia-me tudo e deixava-me a salivar: wnaderer. Flavour-wise, era mesmo a minha cena - e estava tudo a correr bem. o jogo era lindo, difícil, de facto, com inimigos muito fortes (que, se não tivermos cuidado, em dois golpes podem matar-nos), mas o jogo era extraordinariamente fácil de entrar (mesmo - tão intuitivo), e estava tudo a correr bem, certo? até ao red eye knight.
vim mais tarde a saber que um jogador nivel um tem perto de zero chances de matar este gajo. principalmente um wanderer, sem feitiços e um escudo decente. mas o jogo já me tinha punido e ensinado: não brinques comigo, que eu fodo-te.
é dos jogos mais brutais que já joguei. é super imersivo e atmosférico (basta dizer que estamos rodeados numa penumbra permanente, e em que a única coisa que temos para alumiar essa quase-escuridão é uma pedra que brilha, tenuamente, uma luz amarela, presa ao nosso cinto) e a apresentação faz já meio jogo. O combate é fluido, os inimigos são interessantes, a história é simples e boa o suficiente para não sei azeiteira, e é simplesmente tãaaao desafiante! O jogo desafia-nos sempre a jogar no melhor dos nossos níveis. concentrados, alerta. se levamos aquilo de ânimo leve, tau, morte. é que nem há hipóteses. E depois temos gajos com dezenas de metros que nos matam só com um golpe e nos obrigam a ser inventivos para os matar (e o gozo, o gozo que é quando finalmente os matamos), dragões que incineram tudo à sua passagem e dos quais não me atrevo (por enquanto, pelo menos) a chegar perto), esqueletos ninjas com katanas que nos obrigam a tratá-los com respeito, e isto é só do que tenho visto.
A curtir molhões, na verdade. E digo isto com um bocado de vergonha de mim mesmo: isto é um jogo para malta veterana, calejada. é dqueles jogos que os gamers gostam tanto porque já estavam fartos de tudo o que os outros jogos - fáceis demais, bonzinhos demais com o jogador, whatever - já lhes tinham dado. Gosto demasiado deste tipo de coisas para gostar disso. Mas - que se foda. é ganda jogo.
Deixo-vos com o trailer e cena inicial.