quarta-feira, 27 de julho de 2011

Toda a Gente a Fugir para a Frente.



O faroleiro lançava as suas redes ao mar.

Lançava as redes ao mar. Dando-lhes os gestos precisos, soltos, cumprimentados pelos borrifos de água das ondas encapeladas contra a sua roupa, contra o seu corpo. Contra a sua face de rugas duras.

Lançava e dava as redes ao mar contra a imensidão do céu verde e cheio de nuvens; contra a areia molhada, fria, a enrolar-se nos seus pés nus. Nas suas calças arregaçadas.

Nas mãos gretadas e vincadas pelos sulcos grotescos das dificuldades e dos trabalhos.

Contra os olhos semicerrados, contra o ar bondoso e compenetrado, contra a velhice e contra a solidão. Alicerces do farol.

Contra a tempestade que o crepúsculo traria antes de cair, devagarinho, nos braços da noite.

O faroleiro lançava as redes ao mar. Gostava de pescar.

Que fazes tu, faroleiro, que não estás no farol?, perguntou um menino que caminhava pela praia.

Estou a lançar estas redes ao mar para pescar peixe, respondeu-lhe o faroleiro. E já liguei o meu farol.

O vento virava-se e rebolava-se como as crianças traquinas; subia, descia, estava em toda a parte, brincava na rebentação das ondas. As redes eram recolhidas e não traziam nenhum peixe. O faroleiro foi tentando.

E porque pescas?

As nuvens engrossavam, as luzes nas casas, ao fundo, longe, longe; acendiam-se. Corriam-se os cortinados. Fechavam-se as janelas.

Pesco porque tenho de pescar. E porque gosto de pescar. Mesmo se não vier nenhum peixe. Vou pescando. Na esperança de receber alguma coisa do mar.

Mas pescador

E o menino foi-se embora. Brincar para fora da praia. Para outro lugar. O faroleiro sentia os seus suspiros murmurados, quando pegou nas redes, antes de novamente as atirar.

E foi aí que percebeu que estava velho.

No limite da tempestade.

Velho demais para voltar a qualquer antes, a qualquer atrás.

Então decidiu apagar para sempre a luz do seu farol.

E nunca mais contemplar o mar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma astuta observação ao álbum: Source Tags and Codes, ...The Trail of Dead, feito de memória ao som de The Weeknd - House of Balloons [1]

O álbum Source Tags and Codes é um sólido, muito bom álbum da banda de Austin, Texas, considerado pelos conhecedores - e "fãs" (existira mesmo ainda uma definição unitária sobre o que um "fã" é? - da banda como a sua obra mais conseguida. Uma Tour de Force de um peculiar rock que não leva os prefixos de punk, hard, prog, ou indie com ele. É uma viagem - no sentido em que há uma progressão ambiental desde o início até ao seu apoteótico fim - que pode arrebatar os menos cínicos (e, enfim, sempre só esses, quando sempre se pede um esforço para apreciação de qualquer tipo de beleza).

E sem mais delongas, o álbum canção a canção:

1- Invocation abre o álbum, uma intro calma com piano, baixo, instrumental, não interessa. Alonga-se na condição de intro e proporciona o primeiro momento de beleza e calma na entrada do álbum. Cria também, automaticamente, um ambiente. Passamos para 2 - It Was There That I Saw You, que abre a rebentar numa batida não propriamente rápida, com a voz de Conrad - aguda, estranha, quase estridente - grita as primeiras palavras. Está a ser um álbum rock, isto, atípico pela intro mas até aqui nada de mais, até que - um gesto com tomates seguros. A canção morre a meio e transmuta-se, estes rapazes querem fazer algo diferente. Fica bem, também. Passamos para a 3- Another Morning Stoner, uma dos pontos altos do álbum. E está tudo lá, de verdade, quando se é gritado "What is forgiveness? It's just a dream! What is forgiveness? It's everything" bem no clímax da canção. Fica connosco. Passa para 4- Baudelarie, carefree rock song com poder, força, uma bridge não anunciada antes de 5- Homage. Força, poder, rock. Passemos para a segunda parte com 6- How Near How Far. Uma pérola áspera, para todos os efeitos, num momento em que o tom de rock forte, bem próprio, de voz singular já se impregnou em nós e sabemos o que podemos esperar ainda. 7- Life is Elsewhere. A primeira pausa e o primeiro corte do álbum. E passamos para a segunda parte com 8- Hearth in The Hand of the Matter, mais soturna, mais adulta, tal como 9- Monsoon. Temos a 10- Days of Being Wild e 11- Relative Ways a entrarem no crepúculo do álbum como bonitas, profundas canções, encorpadas mas com traços de candura. Estes gajos levam-se a sério e fizeram algo em que acreditam. Nós também, depois de lhes termo dado a difícil chance. Tudo termina com duas últimas notas de graça. A epifania quase constante que é ouvir 12- After The Laughter passando para o épico, delicioso fim com letra a ser cantada bem alto, ainda que cá dentro de 13- Source Tags and Codes.

Fim do álbum.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

[Remix]; _______

Ouvidos.
E boca.
Peito e mãos.
Olhos - mais intrusos
Que conhecidos nesta
nova escuridão
Neste novo
crepúsculo dos sentidos sob o signo
do calor e do
Sol
E dos livros


E de um tempo de hibernação parricida
Sobre o nosso próprio sentimento
E
assim
vai-se

vai
vai


Se vejo-me
curto
;[]pelo que ainda [É]
há para
escrever





quinta-feira, 21 de julho de 2011

Magalhães

"É para cima, é para baixo; é a quarta dimensão."

quarta-feira, 20 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Letra de Canção: Estrangeiro

Chego e
Estrangeiro
És um estrangeiro
Não são as roupas
ou as bocas nem essa
touca isso é tudo coisa pouca
És um estrangeiro
Age como tal
Recebo os conselhos e improviso
Safo-me como posso e nunca aviso
Que só quero ser igual


É que
A alma também tem cores
disse-me talvez uma miúda
Nova e estranha como eu
Nunca lhe perguntei as minhas
E a noite ficou a meio
E bebi um bocado de permeio
Perdi assim a identidade
e parte da saudade
de só querer ter a minha alma
ancorada à realidade

Mas não vale a pena
Sou um estrangeiro sem perdão
Estou bem firme neste mundo
A observar com um olhar confuso
Os dias que passam
E os que não

Entre a casa e a imaginação
Continuo a saltar de festa em festa
E aos olhares confusos, tento ser preciso:
Não quero ser esquisito
Mas até acho bonito
Não estar triste e ser bem lúcido.

E se me perguntam o nome
revelando algum interesse
digo logo com cuidado
e sua ponta de finesse
O do meio?
é Estrangeiro

Não vale a pena
Sou um estrangeiro sem perdão
Estou bem firme neste mundo
A observar com um olhar confuso
Os dias que passam
E os que não

Mas ainda tenho alguma coisa
Ajudo sempre os meus pais a lavar a loiça
E sou sempre bem educado
com o caixa do supermercado


A ex dizia que eu tinha graça
Entendia o meu sorriso
As palavras percebiam-se
E sentia-me menos estranho
Nos seus olhos, vi um brilho
O estrangeiro
Era humano
E chegara ao seu destino.


Talvez valha a pena
Ser um estrangeiro sem perdão
E estou bem solto deste mundo
Mas de vez em quando percebo tudo
com um gesto
ou uma canção.

sábado, 16 de julho de 2011

Dentro e Fora


Tempos estranhos.
Tempos com potencial.
Tempos tristes, tempos felizes.
Curar o coração, teimar em deixar aberto.
Tempos de fechar o coração.
Tempos em que as coisas falam connosco atrás de uma parede de reverb.
E não entendemos os - tempos de mudanças.
De silêncios.
De canções, de momentos singulares.
De paz fugidia, de paz bonita.
Tempos para reflectir sobre os reflexos no espelho.
Tempos de despedidas. Sem querer largar a mão.
Tempos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Hum.

O Universo deve estar a tentar dizer-me qualquer coisa.

Provavelmente deve ser algo do género "RENHÉEEE JOÃO AAAGMHUAFASFADAFS!".

tá, já ouvi.

sábado, 9 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Oh, onde ando eu?


Ando a preparar-me.

smile:


=)

.