quinta-feira, 27 de setembro de 2012
(...)A
porta é de madeira, a janela tem grades de ferro pintadas de branco retorcidas
numa imperfeita imitação de três flores-de-lis. A capa não pode ser usada por
qualquer personagem, só por classes que usem alma. O efeito que terá no aumento das estatísticas do bardo é
marginal – 3.25% de resistência a ataques, uns pontos de defesa a mais. A capa
tem ao centro um sol amarelo pintado sobre um fundo branco, e alguns dos raios
serpenteantes do Sol têm uma forma diferente, tornando-o numa espécie de cabeça
de águia. Que por sua vez é uma espécie de cabeça de grifo. O ar está soporífero(...)
terça-feira, 18 de setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Sem Título
"Daniel experimentou o primeiro charro (inalou-o, travou, tossiu - "a porra do filtro pá, está todo aberto") aos dezassete anos nas férias da Páscoa enquanto a ponte sobre o Tejo escurecia num opaco clarão laranja sobre as águas pastosas de um Tejo que o enchia, em Belém, de um vento e de uma chuva miudinha perfeitos, parecia-lhe, para o momento que estava naquele momento a viver. Um crepúsculo húmido persistia, magnanimamente, sobre Lisboa. os pulmões encheram-se de fogo antes dos seus olhos incharem e retraírem, numa fração de milímetros, para dentro do crânio enquanto, lá dentro, nada na verdade se expandia."
sábado, 8 de setembro de 2012
Ainda não, Solidão
Ainda não,
Solidão
Ainda não
Ainda não quero que me deixes cair ao chão
Ainda não
Já não é tempo de procurar a bela, sem senão
Não vai ser fácil dar-te a mão,
Solidão
Não quero sentir o conforto do sempre "não"
Deixa a alma ainda exposta a uma invasão
Ainda não
Veste com outras roupas a indolência, quero mais sofreguidão
Por favor, Solidão
Que a chuva da vida que me molha seja mais do que uma monção
Que seja de mil dias o prazo da tua dilação
Deixa-me errar de novo sem desculpa nem perdão
Ainda não,
Solidão
Ainda não
Preciso de mais sede para a minha transformação
Quero o risco, o incerto, desconhecer a situação
Poder tirar algum carinho das lições deste mundo cão
Caminhar comigo mesmo até aos limites do pontão
E sentir que tranquei a porta ao cansaço e à tentação
Da Solidão
Ainda não,
Solidão
Ainda não
Procura-me só mais tarde para a enunciação
Que será inevitável fechar à vida o coração
Mas hoje não
Solidão
Ainda não
Ainda não quero que me deixes cair ao chão
Ainda não
Já não é tempo de procurar a bela, sem senão
Não vai ser fácil dar-te a mão,
Solidão
Não quero sentir o conforto do sempre "não"
Deixa a alma ainda exposta a uma invasão
Ainda não
Veste com outras roupas a indolência, quero mais sofreguidão
Por favor, Solidão
Que a chuva da vida que me molha seja mais do que uma monção
Que seja de mil dias o prazo da tua dilação
Deixa-me errar de novo sem desculpa nem perdão
Ainda não,
Solidão
Ainda não
Preciso de mais sede para a minha transformação
Quero o risco, o incerto, desconhecer a situação
Poder tirar algum carinho das lições deste mundo cão
Caminhar comigo mesmo até aos limites do pontão
E sentir que tranquei a porta ao cansaço e à tentação
Da Solidão
Ainda não,
Solidão
Ainda não
Procura-me só mais tarde para a enunciação
Que será inevitável fechar à vida o coração
Mas hoje não
642 - Your favourite moment in film.
Resumidamente.
O ladrão e a rapariga
por ele encontrada, que o tem seguido, até agora, sentam-se numa espécie de
escano de madeira, cansados de fugir e, ainda, à procura um do outro. A canção
mais bonita que já terei ouvido aflora, entre a lentidão e a solenidade do momento.
Suavemente.
O plano passa para a
mesa à frente do escano de madeira polida e negra. Numa mesa, um conjunto de
chá. As suas mãos cumprem delicadamente o ritual de servir o chá. O plano
muda. Sentados lado a lado, levam as chávenas à boca. Ela com uma seriedade
magoada, ele com um leve sorriso.
Pousam as chávenas.
Vêm-se os pés de ambos, por debaixo da mesinha de chá. O rapaz hesita entre o
que fazer, está confuso. Com a mesma expressão, o pé da rapariga começa a
aproximar-se do do dele, até lhe fazer uma festa. Ele olha na sua direcção.
Ficam imóveis; ela, olhando um pouco para ele.
Ele aproxima a sua face.
Beija-a. Trocam o primeiro beijo apaixonado no filme. A canção acalma-se. (E
ainda sentados lado a lado:) Dão as mãos.
Fade out.
Filme: Bin Jip (3 iron – Ferro 3) de Kim ki duk.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Vamos combinar onde nos encontrar. Eu serei o tipo com o cabelo acabado de rapar com uns óculos de sol sem modas vestido confortavelmente, atrás dos caixotes de lixo da estátua da Torre de Eframiel. Tu serás Nostradamus, com um toque de ironia à profecia de não me encontrares de todo junto ao grafitti da girafa mascarada de ninja. Se correr mal, esperamos pelo fogo de artifício e cada um fugirá do outro;, não vou ser o primeiro a sair de casa com a vergonha.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
642 – Coisas que devia deitar fora, mas não consigo
Há
uns sacos da minha primeira viagem de Londres; sacos simples, de plástico, que
não consigo deitar fora. A
máxima, antes do resto: things that you own end up owning you. Tinha
catorze anos, ou quinze – quinze – e viajei com os meus pais para Londres. Castanha
e cheia de Sol e quente num Verão que deixou a rainha-mãe à beira da morte e os
ingleses deitados em parques relvados em cima de toalhas, com vermelhidões
pelos corpos pálidos; a loja onde eu mais queria ir era a Forbidden Planet.
Nunca tinha estado numa loja só de BD’s e respectiva parafernália de marketing,
mas fomos lá duas vezes. Uma? Fui a Londres mais vezes, acho que as memórias
estão a mesclar-se. Foi definitivamente depois do nono ano, porque a segunda
vez em que voltei lá foi pela escola, no secundário, para fazer o MUN – Model United
Nations.
Da
primeira vez que fui à forbidden planet escolhi quase todas as revistas do
homem-aranha que não tinha, para trás – para aumentar a colecção, porque parte
dos anos oitenta foram bastante maus para o homem-aranha – o spawn nº 4 que
julgava poder valer alguma coisa no futuro, e estava em bom estado; uma revista
inútil da Spider-Girl. Nunca tinha visto tantas revistas juntas. Havia uma
estatueta do homem-aranha que me lembro de ter visto, anos antes, na revista
Wizard, que agora já não existe. Comprei aquilo tudo com todo o dinheiro que
tinha amealhado perante a fúria dos meus pais por ter gasto tanto dinheiro em
coisas irrelevantes. A miúda ao balcão de pagamentos era impecável e disse que
o meu inglês era muito bom e deu-me as coisas todas nos sacos da Forbidden
Planet que são impecáveis, vermelhos e pretos; o resto do saco é branco, num
plástico fino e borrachento, daqueles plásticos que não fazem barulho, e as
pegas vão-se rasgando como músculos ou tendões a serem puxados do corpo do
saco, sem qualquer grito de dor, sem qualquer aviso. Guardei-os: dobrei-os, com
cuidado, quando cheguei a Portugal e deixei-os numa gaveta da cómoda onde numa
mais mexi neles a não ser para os afastar para guardar outra coisa qualquer e
voltar a guardá-los no sítio. Trouxe a cómoda (a escrivaninha) comigo quando me
mudei de casa e não posso jurar que os sacos da Forbidden Planet ainda cá
estejam. Será que – os deitei fora, finalmente? Não vou confirmar. Achei os
sacos bonitos na altura, e permaneceram como uma souvenir. O destino deles, se
não o foi já, é só um: irem, um dia destes, para o lixo. Não serão usados
nunca.
O
mesmo é verdade para: também não consigo largar as caixas dos relógios que me
oferecem. Um sentimento de dever perante quem me deu o relógio, é a principal
razão. Quem me dá mais medidores de tempo são os meus pais. O meu pai adora relógios
e dar-me relógios. Um dia confessei-lhe que o único relógio que gostava de ter,
e que usaria toda a vida, era um breitling de pulseira de metal, de mostrador
grande e largo, vários círculos com ponteiros, um relógio que envelhecesse. O
meu pai olhou para mim e gaguejou naquela maneira de que a ideia entrou porque
a achava bonita para o filho e deve já várias vezes ter ponderado gastar mais
de cinco mil euros por um relógio. A ideia bonita dele é esta: se algum dia
puder, compro-lho. O meu pai é sensato, graças a. As caixas dos relógios são
guardadas em mais gavetas de cómodas, num gesto repetido por mim em relação ao
gesto original dos meus pais. Nas gavetas do quarto deles, que cheiravam sempre
a sabonete, havia sempre caixas com relógios, carteiras por usar; guardadas por
baixo, atrás das peças de roupa. Nunca vou usar aquelas caixas, na verdade. São
artefactos representativos daquilo que tenho, com livrinhos de instruções que
nunca me dei ao trabalho de ler.
E
mais? Procuro desfazer-me de tudo que não tenha qualquer relevância futura para
mim. Desenvencilhar-me das ameaças de prisão aos objectos. Deixá-los partir,
desagregarem-se, porque são coisas sem alma e iguais a qualquer pedra. Há uma
marca humana neles, mas se ela não me diz nada, é irrelevante.
Logicamente:
guardo, sem excepções, todas as cartas e notas, até os papéis encontrarem na
sua forma natural as dobras a meio, ou caóticas, depois de viverem por
demasiado tempo no bolso direito, de trás, das minhas calças.
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