Domingo de madrugada despistei-me com o carro.
E um carro na direcção contrária vinha a passar precisamente nesse momento pensei estupidamente, e o carro ia contra mim e o meu carro girava sobre si mesmo em piões enquanto a parte da frente era destruída e ia contra os rails e o meu pescoço partia com a força da pancada meio de lado, só porque o piso estava molhado, mas
não. Despistei-me só, mas foi uma sensação do caraças. Tinha acabado de levar a namorada a casa e lembro-me, segundos antes de me despistar, de ver as horas no relógio do carro: 4h45 da madrugada. E dois segunods antes de me despistar desafiei-me a mim mesmo Ás cinco estou em casa,
o carro vai disparado contra os rails e rebenta-os, o piso está escorregadio por ter chovido pouco e a frente do meu carro desfaz-se contra um muro de betão do lado esquerdo depois de uns metros de relva molhada
, e reduzo para oitenta lembro-me bem
Mas na verdade foi uma coisa muito simples: tinha chovido durante coisa apenas de cinco minutos: isso é muito pior para o piso do que quano chove muito porque a pouca água mistura-se com o pó e os detritos e a sujidade e borracaha dos carros e não a enxagua, o que cria uma substância que parece manteiga e é muito perigosa. e à estúpida fiz uma curva com a estrada molhada - o resto da estrada não estava molhada, devia ser só daquela curva, e ía a oitenta, e estava com uma quinta metida, e tudo bem que devia estar com uma quarta metida mas o meu pai tinha-me dito há umas semanas que se metesse as mudanças mesmo em baixo, incluindo a quinta (que eu pensava que não porque tinha lido algures que em quinta os carros trabalham o dobro) e então eu estava a fazer a curva em quinta e o carro começa-me a fugir e eu só tive de pensar "oi."
E então foi, a curva era em S, primeiro para a esquerda e logo depois para a direita, e eu viro para a esquerda e a traseira do carro começa-me a fugir irresistivelmente para a direita e eu penso "oi", e enquanto estou a virar o carro todo para a direita penso "é pá não acredito que vou espatifar o carro", e pensava na chatice de o espatifar, no dinheiro, os meus pais vão ficar fodidos, no meio do nada vou ter de chamar a merda do reboque, não acredito nesta merda no meio do nada (Trajouce, madrugada), os meus pais, o carro, e nunca pensei uma vez em mim, só na chatice toda que ia ser, e então a traseira desliza toda para o outro lado, para a esquerda, enquanto eu estou a virar para a direita, e enqaunto tento endireitar o volante e controlar o carro ou virá-lo de novo para a esquerda, e me vejo a afastar um pouco dos rails á minha esquerda mas a aproximar-me do muro de pedra à minha direita, percebo que perdi: num momento percebi que não ia conseguir controlar aquele carro. E então o carro vai quase de frente contra o muro, ouço um estrondo, e pára.
Lembro-me das palavras de Bruce Wayne:
"I've got the home stretch all to myself when the readings stop mking sense. I switch to manual - - but the computer crosses its own circuits and refuses to let go. I coax it. It shoves hot needles in my face and tries to make me blind. I'm in charge now and I like it.
- - Then the front end lurches, all wrong. I know what's coming. I've got just under under two seconds to shut this mess down and forfeit the race. The engine, angry, argues the point with me. The finish line is close, it roars. Too close. The left front tire decides to turn all on its own, I laugh at it and jerk the steering wheel to the right. The nose digs up a chunk of macadam. I look at it - - Then straight into the eye of the Sun. This would be a good death...
But not good enough."
É claro que ao contrário do Bruce eu não estava em nenhuma corrida e o meu carro parou de repente, fiquei fodido, pensei no vento selvagem
Não, não pensei em nada disso, pensei no vazio brutal da noite e do nada do sítio onde estava e que não conhecia, que só passo por lá por passar para voltar para casa numa viagem de vinte e tal minutos porque ando depressa e pensei nos meus pais fodidos e pensei no mau pobre carro e pensei na puta do reboque tão longe e pensei quatro e quarenta e cinco da madrugada, e olhei e não vi nada, e o carro funcionava, e estupidamente dead combo continuava a tocar no rádio, desliguei o cd e fiz marcha-atrás. E com o carro potencialmente danificado lá há frente meto-me ao caminho para ver se encontro uma saída que me permita parar o carro e olhar bem para ele, e vinte metros depois viro à esquerda e os máximos estão ligados, e saio, e são qianda quatro e quarenta e cinco, e olho para a frente, e tudo me parece bem -
Resumindo, despistei-me e as sensações e o que me aconteceu. Ao meu carro, não lhe deu nem um arranhão. Depois pensei "tens que te meter no carro JÁ, senão ganhas medo". E com as pernas ainda a tremer bem que me meti no carro, caralho! Meti-me logo no carro e fui-me embora dali para fora. e nem cinco minutos passavam e já dava graças a Deus ao susto, porque tinha aprendido qualquer coisa, e voltei a meter dead combo a tocar, e voltei a acelerar a cem e mais na marginal de cascais com o vidro aberto e a fumar o cigarro do destresse.
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