arrastaste-te pela praia e não pediste ajuda.
e,
(penso agora, que. O cansaço e a tristeza são memórias parecidas. tudo é mais castanho e cinzento nas imagens que guardamos.)
Mas nesta, nesta o céu estava vermelho e o mar verde e preto, como eu me lembrava.
E tinhas um chapéu que tinha voado branco, e tinhas, as tuas calças de ganga arregaçadas. e as tuas mãos estavam muito frias, e cheias de areia.
E o mar estava ali tão perto, mas não estava assim tão perto.
A cadeira de rodas tinha ficado no carro, esquecida
(a imagem da cadeira de rodas, preta, dobrada, espalmada, na parte de trás de um automóvel, no parque da praia, as árvores cheias de pó, o vento com areia, salgado, o mar já por ali, atrás - a sentir-se, invisível - no fim do dia, e frio, já o frio da noite)
E rias-te e as tuas pernas ainda não te obedeciam e não ligavas.
E eu sentia tanta raiva de mim quanto te amava, por gostar de ti. E não queria ajoelhar-me. E andar a teu lado. E não sabia como ficar de pé. Levar-te ao colo para o mar - mas medo que te afogasses. E estava já frio. Mas eras algo louca nessas coisas.
A areia estava molhada,, querendo ajudar-te.
O céu desabou. o vermelho caiu e deu lugar a um rosa escuro, com as nuvens a virem de leste, demasiado altas, longe. O mar encheu-nos de frio, bebemos espuma, trememos na água, vestidos, a tua ideia, como tu, tinha sido tão bonita quanto estúpida.
E eu só conseguia pensar no meu nome e no teu. No meu nome e no teu. A encerrarem as nossas definições, o que éramos, um para o outro
- a água tão fria-
pousaste a tua cabeça molhada no meu peito molhado, naufragaste na areia e o céu começou a ficar preto. As luzes das cidades no horizonte acendiam-se, e eu ainda te amava. Eu ainda sabia o teu nome. Tu ainda não andavas. Mas já não sentia vergonha.
Então o frio transformou-se numa espécie de calor.
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