Nas casas dos mortos mantêm-se os bibelots, as cadeiras vazias e quietas as mesas os corredores com mares serpenteantes de partículas de pó manchas solares como carimbos temporais, o fedor cinzento a humidade nos recantos com azulejos a negação de qualquer acontecer e elas são indiferentes ao estalo "quê?" e a amiga "...O que é que tás a dizer puto?!" que estão a acontecer a trinta metros, cinco kilómetros: universos de indiferença espacial. Um empurrão confuso é dado e a humilhação nasce "Foi mesmo o que eu disse gaaaarrraaaaagabahaaaaa!" e dentro da casa vazia a casa está. Quieta. Vazias. Todas as casas dos mortos estão quietas e vazias. À espera. caem nuvens sobre o céu e passam por elas numa indiferença que pode doer se as casas tiverem presença e as nuvens forem: bem, forem. Podem ser, quase que queremos que as nuvens sejam.
O QUE É QUE TU DISSESTE tás doido haa
Pai ouve-me aliás lê-me esta é a minha última carta. pintei uma caveira na minha cara antes da tatuagem permanente. Já contive no peito demasiadas provas de vida que quiseste que tivesse porque dizias que tinhas descoberto o segredo da vida. Mas eu não me descobri a mim, e as cidades dentro da minha cabeça desmoronam-se em tons castanhos como se fossem feitas de areia e barro húmidos, farelo, e há trovões vermelhos num céu vermelho sobre essas cidades, um apocalypse silencioso que não é partilhado. Tenho sede, as células pedem, o meu coração e a minha pila pedem, não sou nada pai, mas tenho um nome, tenho uma caveira na cabeça, eu sou a minha caveira, debruada a ouro, debruada a ouro, lembro-me das canções da minha avó, que me dizia -
2 comentários:
"e as cidades dentro da minha cabeça desmoronam-se em tons castanhos como se fossem feitas de areia e barro húmidos, farelo"
adoro as imagens bonitas que deixas na minha mente.
obrigado. faço por isso. ainda hoje penso em igrejas no olho da tempestade de júpiter.
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