quarta-feira, 30 de março de 2011
A pedido (a gosto): uma história sem uma personagem comum a este tipo de histórias.
sábado, 26 de março de 2011
Mas talvez valha a pena escrever. Talvez valha a pena escrever sobre as saudades.
As saudades são um sentimento muito único, muito especial. É uma tristeza nostálgica que advém de um outro sentimento bonito: o amor ou a amizade, o afecto, no geral. É algo auto-imposto, porque preferimos a dor daquilo que nos faz saber que somos humanos ao gostarmos de uma pessoa, à escolha de simplesmente não querermos sentir.
E deixar de sentir é fácil. Há rotinas, há uma míriade de outros sentimentos para explorar que se encontram tão disponíveis quanto a saudade e sem a nostalgia calmamente triste que ela acarreta (bonita. essa nostalgia calmamente triste é bonita através da saída do nosso pensamento para o depois dessa saudade. É sempre um estado passageiro e sabemo-lo).
...Mas. Bom. Talvez não valha a pena escrever sobre isto.
Talvez valha a pena só dizer que as saudades são bonitas.
E é verdade.
As saudades são bonitas.
domingo, 20 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
Ourém
Estava!
Um homem junto a um carro.
Uma carrinha Peugeot topo de gama, para ser mais exacto.
E! Essa carrinha
estava à porta de um cemitério
E o homem estava à espera à porta do cemitério
E enquanto estava à espera
Leu uma revista
Fumou um cigarro
Ajeitou as calças do fato
E ainda olhou para cima
Porra
É Março
E as estações estão todas trocadas
Fez Sol e chuva o dia todo na região toda
Ainda que estivesse a uma hora de carro do sítio de onde partira!
E chovia um bocado
Pois chovia
Ao pé do raio
do cemitério.
Minutos arrastaram-se durante horas
E
Os pensamentos a multiplicarem-se
E ao pé dessa carrinha e desse cemitério e
dessa chuva
Esparsa
Pouca
Irregular
Os pensamentos do homem voavam
Como as nuvens no
ar
Deixou de os querer pescar
Agarrar
Voaram para fora
Embora
Embora
segunda-feira, 14 de março de 2011
O homem sem memória.
Era uma vez: um homem que se tinha esquecido de tudo. A memória, apagada. Não se lembrava de nenhum lugar, nenhuma pessoa, ninguém que tivesse amado. O seu nome, perdido. Sabia apenas que era um homem, e que tinha acordado no meio do deserto.
É isto.
O deserto aqui pode ser qualquer lugar sem pessoas. Estava num lugar que não conhecia, e não havia pessoas. Isto é um deserto.
Ruínas de uma aldeia qualquer, mais precisamente. Como a acção do homem se pode degradar - nem sabia se eram ruínas milenares, ou a consequência de uma qualquer guerra da qual tinha sobrevivido, quando acordou primeiro, e as abandonou depois. Sem memória.
O homem sem memória de nada - de nada do mundo que tinha deixado - percorreu um caminho que não conhecia. Condenado a estar sempre perdido. Depressa se habituou. Encontrou um curioso no caminho, que também caminhava sozinho, ardente de palavras. Interessou-se pela busca deste nosso homem sem memória, ainda que não concordasse com ela.
Tu não conheces o mundo, dizia-lhe ele. O mundo agora tem potencial para ser muito melhor do que foi agora. Foram-se embora as guerras e a dor. A perda dos entes queridos. Podes seguir em frente um homem novo - sem nada que te prenda, reconstruindo um mundo melhor do que o que deixaste. Porque persistes em recuperar as memórias de uma vida que só te pode voltar a trazer dor, assim que te lembrares do sítio onde vivias - e o encontrares em escombros. E da mulher e filhos que podes ter - e os encontrares por debaixo deles? Porquê quereres lembrar-te da vida que eu sei que só pode ser pior da que vais construir agora?
O nosso homem sem memória respondia-lhe como podia. É importante saber quem sou, e já sei quem sou ao querer saber quem sou. Não chega, porém, para querer recuperar a memória. Porque posso criar o meu nome de novo. Ainda tenho duas mãos, e um coração e uma cabeça. Posso fazer tudo com eles, estas minhas mãos; este meu coração. Esta minha cabeça. Posso construir uma vida melhor da que a que tinha antes, quando o mundo estava em guerra. E melhor que a vida agora. Esta minha travessia pelo deserto com a tua voz a acompanhar-me os passos. Sim, posso.
Então porque queres ainda lembrar-te?, perguntou o homem.
O homem sem memória parava por vezes, agachava-se. Olhava para o horizonte, ou apanhava terra do chão e deixava-a escorrer pelos dedos. Um gesto simples. Fazia-o agora, enquanto procurava responder com palavras o que o coração sabia há muito.
Eu sou um homem triste. Sou um homem triste, porque fui outro homem outrora, e não sei quem sou hoje. Sou um homem triste porque pretendo saber quem era o homem que era, e não consigo. Não depende de mim, embora acredite que, se muito caminhar e trabalhar, a memória um dia voltará. Mas sei que não tenho a cura para a minha condição - a resposta para as minhas dúvidas. Não posso fazer nada. E estou só triste por causa disso.
Mas deixarias de ser triste se abraçasses esta tua nova vida - se desistisses de procurar saber quem és, respondia-lhe o companheiro.
Sim, é verdade. Seria um homem feliz se renegasse a minha busca. porque a busca seguinte - a vida nova, livre do passado, com estas minhas mãos
"este meu coração, esta minha cabeça", repetia o seu companheiro...
, seria fácil. Dizia o homem. Seria fácil - porque sei que conseguiria mudar o mundo com eles, se suasse o suficiente. Seria feliz porque poderia criar um nome novo para mim - e bastaria. Uma nova vida.
Mas eu quero saber quem sou. Quero saber: porque sei que vale a pena. Aquilo que eu sou, sou eu. É uma parte de mim. Negar uma parte de mim sem saber se não há mesmo hipóteses de algum dia recuperar a memória, é desistir de mim. E eu valho a pena. E eu no passado agradecer-me-ia. Não quero partir de mim, porque mais nenhum deserto me restará depois senão este. Este, sobre o qual caminhamos. E a mulher e os filhos que não tenho podem estar vivos.
Ou podem não estar, respondeu-lhe o homem, suavemente. Podem ter perecido - ou pior, terem seguido em frente.
É um risco, concordou o homem sem memória. Eu posso até nem gostar daquilo que era - posso querer depois perder a memória outra vez, para sempre, e não conseguir nunca mais. E ficar preso a esse erro para sempre.
Mas que pessoa sou eu se nem sequer tentar lembrar-me de quem sou?
Não seria eu certamente.
O deserto acabará daqui a alguns dias ou semanas, disse-lhe o homem. Em breve chegarás a sítios com pessoas, pessoas que te conhecerão, e te dirão quem és. Pessoas para te amarem e seres feliz. Ou pessoas que odeiam o monstro que és e desejam matar-te. Não é melhor voltares para trás? Ou ires para outro caminho?
Oh, o quanto caminharam. O quanto custou. Os lábios gretaram-se pelo sal e pela areia, pelas poeiras cristalizadas de terra e fuligem, cinzas, que caíam do céu. E sempre o homem tentou demover o homem sem memória de chegar ao fim da sua travessia. O homem sem memória oferecia aos deuses sacrifícios de animais que não comia. Passava fome, assim. E o homem troçava do nosso homem sem memória - Essas oferendas nada significam! O teu destino está nas mãos dos deuses, não das tuas. Porque é que continuas a fazê-las?
Os deuses merecem, respondia-lhe o homem sem memória. E mesmo que nada faça, dão significado à minha jornada.
Inútil, respondia-lhe o homem.
E o nosso homem sem memória acenava com a cabeça, concordando. Mas continuava a caminhar.
Porque tinha de continuar a caminhar.
Que homem é este, então? Que homem é este que estaria melhor escolhendo seguir em frente, mas permanece caminhando? Sem um fim à vista, sem uma certeza? Apenas com breves vislumbres de imagens que ainda não têm nomes, ou significado?
Este é só um homem que caminha, porque escolheu caminhar pelo que acredita.
Este homem
Não sou eu.
Sou eu.
sábado, 5 de março de 2011
Despretensão
E, uáu, as coisas que esta pessoa aqui, eu, queria dizer nos dois minutos e tal entre o silêncio da escrita e a força da canção. Ganhar espaço, falar em fazer bebés, o acto de - depois de tanto tempo - voltar a despir-te a roupa antes da memória de ela já outras vezes ter desfalecido inerte no chão, com víboras na minha barriga - passa para aqui e para ali. Na tela em preto ilumina-se o que se quer, no condão da melodia e o resto vemos como fica, se não tens jeito tivesses. Foi bom o dia, não foi? Fuck bitches, get money, sorri. Disregard taste; disregard. As páginas colam-se ao ar dos dias e aos dias, as páginas dos dias, o vento passa pelos nossos casacos e somos nós que somos nós ali, estás a ver, naquele momento, sim,, em que estás só distraído e a andar por aí, certo?