sábado, 9 de abril de 2011

Histórias no Quintal, 1

No quintal banhado pela luz estavam dois animais: um tigre de prata feito de prata e um tigre vermelho em metal martelado e alisado. Cada um estava numa ponta do quintal e os dois conversavam um com o outro.

- Quando é que achas que eles chegam?

- Eles costumam vir por esta hora.

- Há quanto tempo conversamos nós sem dizer nada de novo?

- Há tempo suficiente.

Os dois tigres já tinham sido inimigos mortais há eras atrás, ou tardes, no quintal, quando ainda não tinham decidido esperar que o portal do seu quintal no meta-universo se abrisse para um quintal exactamente igual no nosso mundo: dois tigres poderiam passar para um sítio qualquer (Lisboa, porque não?, há poucos quintais em Lisboa) mas ainda não se tinha aberto nenhum.

- In absentia - começou o Tigre de Prata - já tive uma vez um dobrar de mundo entre mim, quando um poeta e uma pessoa e um vento com nome se meteram todos num barco - Ah, sim, e uma Ofélia - e virou-se tudo do avesso, mas do avesso a um nível maior até um feiticeiro fazer desaparecer tudo.

- Dissolveste-te! - respondeu o Tigre Vermelho - achas que não me lembro dessa história?

- Já foi contada há muito tempo.

- E nunca foi contada uma história sobre mim. Ou pelo menos eu nunca te contei nenhuma minha.

Mas o Tigre Vermelho sorriu! O Sol do do meta-universo dançava entre o céu amarelo e roxo. Era uma tarde calma e solarenga; tudo estava calmo. Apesar de algumas rochas ainda flutuarem entre um planalto e outro, todas as forças estavam equilibradas.

- Tenho-os todos aqui - dizia o Tigre de Prata, abrindo uma das suas patas e vendo-se um globo rodopiante de conceitos e histórias - todos pronto para começar de novo, roubados ás garras da morte.

- Mas o raio do portal nunca mais se abre?!

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