No quintal banhado pela luz estavam dois animais: um tigre de prata feito de prata e um tigre vermelho em metal martelado e alisado. Cada um estava numa ponta do quintal e os dois conversavam um com o outro.
- Quando é que achas que eles chegam?
- Eles costumam vir por esta hora.
- Há quanto tempo conversamos nós sem dizer nada de novo?
- Há tempo suficiente.
Os dois tigres já tinham sido inimigos mortais há eras atrás, ou tardes, no quintal, quando ainda não tinham decidido esperar que o portal do seu quintal no meta-universo se abrisse para um quintal exactamente igual no nosso mundo: dois tigres poderiam passar para um sítio qualquer (Lisboa, porque não?, há poucos quintais em Lisboa) mas ainda não se tinha aberto nenhum.
- In absentia - começou o Tigre de Prata - já tive uma vez um dobrar de mundo entre mim, quando um poeta e uma pessoa e um vento com nome se meteram todos num barco - Ah, sim, e uma Ofélia - e virou-se tudo do avesso, mas do avesso a um nível maior até um feiticeiro fazer desaparecer tudo.
- Dissolveste-te! - respondeu o Tigre Vermelho - achas que não me lembro dessa história?
- Já foi contada há muito tempo.
- E nunca foi contada uma história sobre mim. Ou pelo menos eu nunca te contei nenhuma minha.
Mas o Tigre Vermelho sorriu! O Sol do do meta-universo dançava entre o céu amarelo e roxo. Era uma tarde calma e solarenga; tudo estava calmo. Apesar de algumas rochas ainda flutuarem entre um planalto e outro, todas as forças estavam equilibradas.
- Tenho-os todos aqui - dizia o Tigre de Prata, abrindo uma das suas patas e vendo-se um globo rodopiante de conceitos e histórias - todos pronto para começar de novo, roubados ás garras da morte.
- Mas o raio do portal nunca mais se abre?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário