O meu pai está a dormir. Cruxificado ás ripas da cama desfeita, onde ontem ainda dormia, amarrado com fios eléctricos de várias cores, ver-me-lho sangue, verde e bic a-zul. Na primeira manifestação desse acontecimento havia um cão, um pastor alemão, uma casa com vários andares com panópticos acidentais em lugares distintos, e uma mãe ausente. Desta vez, é real, aqui, eu estou desperto; há música a gritar. )Já o encontrei antes(. Estou cansado demais (par)a observá-lo. O meu pai vai morrer, mas não parece ser, ainda, hoje. O seu silêncio continua a ser permanente. O meu pai nunca fala nestes momentos. As mãos e os pés não estão furados por espigões, só os fios eléctricos o prendem. Tenho sede. Ele dorme, eu estou, infelizmente, com o olhar doente de quem as insónias são o fio condutor da claridade dos dias. Está bem, pai. Não sei porque é que te manifestas assim. Mas a minha mãe ainda está ausente. Esta música que grita não me insulta. Tudo é mito, tudo é conceito e significado. Chega por agora pai. Só quero acordar, acordar de vez, e escrever sobre olhos verdes em alta definição.
Em HD
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