Uma estrela na cabeça. Uma bola luminosa e massiva composta por plasma mantida coerente pela força da gravidade. Com um gorro vermelho por cima de umas férias passadas na neve, há mais de uma década. Passeia-se por ruas secundárias e parques minúsculos onde os velhos a jogarem dominó desconhecem o estranho milagre que passa por eles personificado num Sr. Sousa com a cara crispada de preocupação. A estrela mantinha-se quietinha. O Sr. Sousa sentia o pulsar cilíndrico e a força das marés de plasma no seu interior a libertarem um calor incomodativo. Chegou a casa preocupado, cansado de pensar, e decidiu ligar à ex-mulher, querendo esmurrar-se na cara enquanto discava o número no telefone.
- Estás a dizer que te nasceu uma estrela na cabeça?
- [suspirando] Achas que estou a… mentir ou -? Nasceu mesmo, nasceu-me durante a noite e não sei o que fazer, já fui a um médico. Diz que não a pode tirar com medo de evitar a criação de um buraco negro ou um efeito de supernova.
-E não te disseram mais nada - ? se crescer ou…
- [Girando o bocal do telefone] Se – se crescer? A estrela pode crescer?
- Bom, não sei. Até que ponto é estável uma estrela? A sua massa não muda até ao fim da sua vida, embora exista uma fusão termonuclear de hidrogénio durante todo esse tempo. Não cresce nem diminui. Mas a ti nasceu-te uma estrela na cabeça, cresceu do nada, durante a noite e tudo, Sousa [até a ex-mulher do Sr. Sousa o tratava por Sousa].
- Pois é… Pois é…
- Já experimentaste tocar na estrela com a tua mão?
- Nem pensar! Já basta o calor e – mas sabes que deixei de sentir o meu cabelo? Será que é possível que a estrela esteja ligada directamente ao meu crânio ou – ou ao meu cérebro?
- Sabes, Sousa? Não sei bem como te ajudar no teu problema mas acho que devias fazer duas coisas em relação a essa estrela?
- Ai sim? E quais são essas coisas?
- A primeira é que deves fazer um cash in dessa coisa mesmo à bruta. Vai ao programa da Júlia, arranja um agente, para começar. Na pior das hipóteses, ganhas uns cobres como atracção de circo e sempre te podes despedir do teu trabalho no PBX. Ainda és entrevistado pelo canal Discovery, e tal…
- Está bem, está bem. E qual é a segunda?
- A segunda? – e a ex-mulher do Sr. Sousa fez uma curta pausa dramática – Acho que lhe devias dar um nome.
Um comentário:
ena! net! e coisas pa ler no missil. uma data delas. ainda bem que guardei para agora.
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