Como
os meus leitores sabem, tenho colaborado ao longo da minha carreira com várias
bandas – pequenos projectos, desde procurar e encontrar bons nomes para álbuns,
a definir o feel geral do artwork de um álbum, até algum polimento de letras, pequenos
trabalhos de produção, etc. A minha colaboração com artistas musicais começou
com um projecto pro bono para o meu amigo Mário Sanchez, mais conhecido como
Jazz Sanchez, saxofonista tenor do quarteto Gills que passou, precisamente,
pelo nomear da banda e ideia para a capa (uma caixa de produto de restauração
capilar, em close-up, deitada, jorrando um líquido transparente e espesso do
seu interior para uma mesa com uma toalha vermelha, cheia de borboto, vendo-se
no canto inferior esquerdo o início da mancha de produto desperdiçado que,
misturado com o pano da toalha, fazia nascer um tom de vermelho mais escuro; a
caixa era de formato cilíndrico, maior do que uma mão, pintada em prateado,
espelhada, com letras fluorescentes indescortináveis). O meu nome foi-se
criando com colaborações com os Sacrossanto (trio death-metal de Palmela),
Fuishi Crows, Lamela, The Panopticon, João Berhan ou Dave Mattew’s Band, só
para citar uns quantos.
Foi por isso com ligeira, mas agradável, surpresa, que
recebi o convite dos The Mars Volta para ajudar a criar, juntamente com o seu
mais novo registo – o álbum Noctourniquet, editado pela Warner Brothers, este
ano – um “universo expandido” que deveria sair, mais para o final deste ano,
com um dvd da banda com as mais icónicas canções do seu repertório captadas ao
vivo – com destruições sonoras e visuais – ao longo da carreira de
quase uma década da banda. A ideia seria fornecer novos instintos sobre como
ouvir e perceber o álbum, decifrar – através de pistas, com um programa
interactivo (the corrupted rosetta), através de pistas espalhadas pelo dvd – as
letras escondidas entre cada canção que compõem o alfabeto escondido, semeado
por Cedric Bixler-Zavala, a que deu o nome de “cerpin textum”. Ademais, e porquanto
o novo álbum agora editado pela banda não obedece a um exercício conceptual,
pediram-me para eu o conceptualizar através de um exercício destacado de cada
canção com uma história, ou temática, comum, extraindo o sentimento geral de
cada uma, abstraindo-me – afastando-me se possível – o mais possível das
letras. O álbum teria ainda legendagem em espanhol e – ofereci-me eu para
realizar esse trabalho através dos meus contactos no mundo português da
tradução – português, mas também sânscrito, urdu e cerpin textum (esta última
língua seria cantada por Cedric e, depois, invertida, para que pudesse apenas
ser descodificada nos velhinhos leitores de cassete de antigamente, obrigando
os mais fiéis fãs a passarem o áudio do dvd para esse obsoleto, e cheio de
charme, formato). A mensagem seria, em princípio, passada durante os períodos
de experimentação da banda nas canções tocadas ao vivo, extraída dos textos que
eu criasse para inserir no dvd, desbloqueados em pdf apenas após se inserir o
código na parte interior do dvd, cuja cobertura, de plástico, deveria ser
opaca, mais propriamente de um azul-petróleo algo incomum. Ficou ainda no ar, através
das conversações que tive com a banda, a possibilidade de eu fazer a capa e
verso do dvd, embora necessitasse sempre do beneplácito do Omar
(Rodriguez-Lopez) para levar as minhas ideias e visões avante.
Saltei para o projecto com toda a vontade de o
executar e agarrei-o com unhas e dentes, mas o mesmo desmoronou-se quase antes
de começar. A editora (Warner Brothers Universal) pretendia lançar o primeiro
dvd dosThe Mars Volta na altura do Natal, ou seja, em inícios de Novembro, o
que coincidia com o retiro anual zen do Cedric nas tribos africanas Swahillis,
e com o lançamento do décimo-quarto álbum de originais do Omar (razão esta que,
por si só, não seria grande problema, não fosse o álbum – cujo nome me encontro
proibido de revelar – consistir de quarenta duas canções e vir em 3 cds,
intitulado cada um “manhã”, “tarde” e “La eterna noche”, cada um com um estilo
musical distinto, mas todos explorando o tema da revolução cultural maoísta e o
subsequente caos que originou na China, com a destruição praticamente total de
toda a sua história). Houve conversas acesas por vídeo-conferência entre mim e
os membros da banda, os Volta e a WB, e eu próprio com a editora, que se
recusava a ceder às pretensões da banda em editar o dvd em Março de 2013 (dois
meses antes do novo álbum dos The Mars Volta, a sair – you heard it here first,
folks), conversas onde por várias vezes se perderam as estribeiras e fui
acusado de ser “um judeu usurpador de pensamentos e sonhos” (eu nem sequer sou
judeu) e “um ditador cruel que só se importava com o seu próprio trabalho” ou “o
irmão bastardo do gajo do Napster”. Embora não tenha sido o mais maltratado
pelas críticas – fala-se que os The Mars Volta estão a pensar em sair da WB e assinar
pela (defunta?) Gold Standard Laboratories e que o teclista foi acusado de ser “um
filho da puta cabeludo sem talento que só está aqui para preencher a quota de
brancos na maior banda do mundo” – o projecto, por clara impossibilidade em
deixar satisfeitas todas as partes, foi interrompido.
O que restou do projecto foi o meu contributo para a distorção
em cerpin texto e formato pdf do aumento do universo Noctourniquet. Para o
projecto, escolhi o tema de, por canção, criar um poema, onde o tema comum –
como me foi pedido que arranjasse, um tema comum – é o da história da criação
de uma religião distinta.
Uma vez que o projecto foi completamente pelo cano
abaixo, deixar-vos-ei, todos os dias pares deste mês, um poema da série “O
Início dos Novos Deuses” esperando que possa, um dia, ainda ser chamado para
colaborar com a minha banda favorita.
A não ser que eles voltem a fazer algo do género do
Ochtaedron. Se for esse o caso, então que se fodam.
Enjoy.
3 comentários:
Acho que desaprendi como se compreende português-pt, mas não consigo dizer se este post faz menção a uma história real ou imaginada.
Marcus! Benvindo de volta.
Nunca deixei de te acompanhar :)
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