Os deficientes mentais chegavam-se às grades babando-se com as bocas entre os furos de metal preto e plástico verde, as mãos como as bocas, fazendo sons guturais de Uuuumagumma ou blhablhablhaaaaa, arritmadamente e algo lentamente. Como
DEFICENTE UM: Uuumagumaaaa....
DEFICIENTE DOIS: Blhablhablhablha.!
Estavam num jardim zoológico ao lado dos chipanzés, à esquerda, e do matanduá, à direita. Um dos mongolóides, Roberto Silva, tinha estrelas nos olhos e olhava para o céu, à noite, cheio de preto e vazio e pontos brancos de longe lá no cima, pelas grades de ferro da jaula onde passava a noite (apenas uma nesga já que a cobertura por fora da janela gradeada tapava a maior parte da visão do céu), e via muito mais que o céu. Via um mundo, em que não era um estúpido e inútil deficiente mental apenas atracção turística e animal enjaulado sem capacidade de decisão, e imaginava-se uma pessoa normal (o que quer que isso fosse) que, se pudesse e se o fosse, viajaria pelo cosmos onde teria as mais incríveis aventuras - sempre munido de uma pistola presa à cintura ou à mão direita (apesar de Roberto ser canhoto) que dispararia raios laser contra alienígenas verdes vestidos com fatos de plástico duro roxos e azuis-escuros com redomas de vidro a protegerem-lhes a cabeça, e cordas, caso caísse dos penhascos, por engano, dos planetas com paisagens de cristal inteligente e possibilidade da terra mudar como uma pintura numa tela inacabada, como um organismo vivo, e assim como poderia o Roberto morrer?, uma pistola que disparava lasers e cordas mágicas - por algum razão o Roberto é mentalmente deficiente, e está enjaulado.
E depois havia a mongolóide Luísa, tão atrasada mental e limitada quanto Roberto e os outros que lá estavam (Chiquinho, Álvaro, e Pamela), que sonhava não com estrelas ou ilimitadas viagens limitadas aos confins do espaço tal como um deficiente mental o perceberia, mas com a Britney Spears, loira e perfeita, a Britney Spears que um dia iria passar por ali, vê-la, e de algum forma, compadecer-se da sua situação; estender a mão
- Ó meu Deus, o que está esta criança perfeitamente bonita e normal a fazer aqui?!
Tocar na rede gradeada onde Luísa estaria a olhar para ela, com lágrimas nos olhos, admiração e um espanto tão grande que mudo, só com o ranho a correr-lhe do nariz por estar emocionada, e tão emocionada que paralisada, a chorar, a chorar de alegria
- O que é isto, prenderem esta criança? O que é isto? Exijo falar com o responsável do parque imediatamente, vou levar esta criança!
E o sonho de Luísa era alimentado por si própria e pela realidade, porque ela sabia que as pessoas gostavam da Britney Spears, ela era de todos a mongolóide mais preferida pelas pessoas todas, porque cantava sempre sem parar, agarrada à grade, as canções todas da Britney que ela sabia
- H_iiiit mi beee...bi UÁNE moo,óoore (enquanto se babava) TAIme...!
E as pessoas aplaudiam
BRITNEY SPEARS: hahaha olha que giro, puseram as criancinhas atrasadas ao lado dos tamanduás!, e a perfeição loira num vestido preto que foi lá com os filhos de passagem afastou-se, seguido por uma legião de papparazzi que ignorou a Luísa, de coração destroçado, junto ás grades. Tinham tirado o único, o único e mais valioso e precioso sonho de uma vida inteira, à Luísa, e ela ficou, horas, pela primeira vez em silêncio, agarrada à grade com a boca aberta e as mãos a agarrarem-na frouxamente, enquanto as lágrimas corriam, o ranho branco corria, e o choro era silencioso, constante e interminável. Luísa não se matou nessa noite.
Chiquinho amava Roberto. Mas Roberto achava Chiquinho feio, e eles não tinham nada. Luísa dormia com a Pamela, mas desde o incidente Britney Spears que Luísa nunca mais teve, na cela, comportamentos de cariz sexual. Por vezes mostrava a vagina de forma aos visitantes, a meio do dia, mexendo-lhe violentamente como a uma viola, num gesto de insulto. Pamela era relativamente discreta, o Álvaro era o mais feio de todos, porque além de ser tremendamente deficiente mental e completamente estúpido, demasiado estúpido até na sua deficiência para conseguir sentir tristeza ou revolta, na sua condição, era muito moreno e tinha o cabelo muito preto e muito forte.
Roberto sonhava com naves espaciais
Tinham a forma de bolos, e rodas de carro, e
Luísa nunca mais sorriu e
- Olha mãe, olha os meninos atrasadinhos...
E lá estavam eles, junto às grades, agarrando-as com a boca e as mãos, a fazer monifâncias, no pino do dia, no meio do Zoo.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
Como sempre -
-
Tinha um post bom para fazer naquela altura precisa. Mas aquela altura precisa passou
.
Tinha um post bom para fazer naquela altura precisa. Mas aquela altura precisa passou
.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
What would the community think? - 12; 4
Luar sobre o luar do casaco. Queima-se uma ou outra pele, a pele essencial, resgatamos a falta de um irmão imaginado, e a lança, espetada, ainda está, sobre a lama, uma espécie de líder da verdade.
O que pensaria a comunidade? Dói-me o pescoço nas cinzas que sobraram. pestanejo uma carica pelos dedos. Não lhe conheço o nome e já é como um navio forte e duro, denso. A preto e branco olho para as silhuetas e para as penumbras;, passo as costas das mãos por um livro - qualquer. Sinto a tentação da fala e do desejo pelo desconhecido, ou pela minha privada forma de medo. Nu como uma boa-vinda o frio azul ousa-se mais masculino do que eu, e o Inverno tem a mesma cara que uma notícia sem nome, sem data, sem conteúdo, uma estrada ao longe de si mesma.
E começam a dançar ao lado de mim na névoa do silêncio. Não quero conhecer ninguém, nenhuma dessas pessoas. Da minha mente, primeiro vejo uma pirâmide, depois um grito de mulher, e juntam-se os dois e dão em mim,, mas continuo em silêncio.
(haaaaaaaaaa), Ham
_
O que pensaria a comunidade? Dói-me o pescoço nas cinzas que sobraram. pestanejo uma carica pelos dedos. Não lhe conheço o nome e já é como um navio forte e duro, denso. A preto e branco olho para as silhuetas e para as penumbras;, passo as costas das mãos por um livro - qualquer. Sinto a tentação da fala e do desejo pelo desconhecido, ou pela minha privada forma de medo. Nu como uma boa-vinda o frio azul ousa-se mais masculino do que eu, e o Inverno tem a mesma cara que uma notícia sem nome, sem data, sem conteúdo, uma estrada ao longe de si mesma.
E começam a dançar ao lado de mim na névoa do silêncio. Não quero conhecer ninguém, nenhuma dessas pessoas. Da minha mente, primeiro vejo uma pirâmide, depois um grito de mulher, e juntam-se os dois e dão em mim,, mas continuo em silêncio.
(haaaaaaaaaa), Ham
_
What would the community think? - 3; 12
Então disseste,
- (estou apaixonada por ti).
Wowowow.
Espera.
Espera lá. Eu não posso gostar de ti, eu - nunca me imaginei a gostar de ti. Não é suposto gostar de ti só porque quero estar contigo, só porque gosto de ti. Sim, tudo bem, é bonita a imagem de te levar pela rua pelo meio de Lisboa enquanto falas sobre a arquitectura das casas pombalinas,
(por entre as cores desajustadas da tarde, ou da madrugada)
e foi bonita... estou-me a lembrar agora porque me lembro sempre
, deitar-te na cama, tirar-te da cadeira de rodas e despir-te lentamente para fazer, acho eu amor, ou pedir um pouco de amor emprestado para to poder dar - porque o merecias.
O que pensariam os meus amigos?
Mas o teu cabelo mata-me porque não sei de onde vêm esses caracóis. E gosto da tua mãe... ela gosta de mim. Mas não, não é suposto gostar de ti, não é suposto amar-te. E se estiveres apaixonada por mim - já estou cheio de medo. Aterrorizado, não é - não é suposto namorar com uma paraplégica, foi só uma aquela vez, e foi bom, e é tão bom ter-te conhecido,; não, merda não fales
- João...(?)
(E vias o medo nos meus olhos)
Não é que eu não te ame - não quero dizer não é que não GOSTE DE TI - tenho que parar com isto - não é que... és linda, não é que não sejas linda - sinto-me tão estúpido, porque é que estou com tanto medo, porque é que estou, sim, és linda
(estou completamente desamparado, completamente...)
A estupidez do coração: a realidade torna-se fútil connosco inseridos nela. Boy meets girl, a miúda está numa cadeira de rodas, e se gostares da rapariguinha não é que gostes mesmo dela - estás é a satisfazer os teus instintos paternais. Eventualmente? a rua onde ela se virou para trás para te pedir o teu amor terá para sempre o nome dela. E, claro, não lho demos
!
- (estou apaixonada por ti).
Wowowow.
Espera.
Espera lá. Eu não posso gostar de ti, eu - nunca me imaginei a gostar de ti. Não é suposto gostar de ti só porque quero estar contigo, só porque gosto de ti. Sim, tudo bem, é bonita a imagem de te levar pela rua pelo meio de Lisboa enquanto falas sobre a arquitectura das casas pombalinas,
(por entre as cores desajustadas da tarde, ou da madrugada)
e foi bonita... estou-me a lembrar agora porque me lembro sempre
, deitar-te na cama, tirar-te da cadeira de rodas e despir-te lentamente para fazer, acho eu amor, ou pedir um pouco de amor emprestado para to poder dar - porque o merecias.
O que pensariam os meus amigos?
Mas o teu cabelo mata-me porque não sei de onde vêm esses caracóis. E gosto da tua mãe... ela gosta de mim. Mas não, não é suposto gostar de ti, não é suposto amar-te. E se estiveres apaixonada por mim - já estou cheio de medo. Aterrorizado, não é - não é suposto namorar com uma paraplégica, foi só uma aquela vez, e foi bom, e é tão bom ter-te conhecido,; não, merda não fales
- João...(?)
(E vias o medo nos meus olhos)
Não é que eu não te ame - não quero dizer não é que não GOSTE DE TI - tenho que parar com isto - não é que... és linda, não é que não sejas linda - sinto-me tão estúpido, porque é que estou com tanto medo, porque é que estou, sim, és linda
(estou completamente desamparado, completamente...)
A estupidez do coração: a realidade torna-se fútil connosco inseridos nela. Boy meets girl, a miúda está numa cadeira de rodas, e se gostares da rapariguinha não é que gostes mesmo dela - estás é a satisfazer os teus instintos paternais. Eventualmente? a rua onde ela se virou para trás para te pedir o teu amor terá para sempre o nome dela. E, claro, não lho demos
!
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Um Novo Reino
Um travesti comum vestido cor de rosa e descalço em cima da lama preta virava hamburgers no grelhador com um cigarro na boca. Outro travesti, paraplégico, ao lado dele, aos círculos, limpava uma caçadeira preta.
As paredes do manicómio em salmão erguiam-se atrás deles, caladas ou indiferentes perante a rotina dos dois pacientes, que pareciam estar em total liberdade. É que o manicómio fora tomado pelos loucos. Orgulhosos, subiam ao telhado e atiravam excrementos lá para baixo. As mãos ficavam cheias de merda, e alguns principiavam a ter sexo uns com os outros, não importa o sexo, um broche em pé aqui, uma enrabadela ao pé da cantina entre a comida violada no chão, no chão laranja e azul plastificado. O cadáver de um dos guardas de bata branca cheio de sangue que parecia um exagero, supunha-se por talvez alguém, repousava em cima de um aquecedor pregado à parede, num ângulo estranho, com um tubo de metal irregular cravado no meio do peito, atravessando-o, dobrando-se no contacto com a parede. Os cabelos de todos esvoaçavam no vento forte com as caras sujas de fuligem e riscos das lágrimas secas. Lá fora, na lama, longe dos dois travestis, uma pira de colchões fumegava, apagada, com um corpo carbonizado no meio e um cão a dormir ao pé enroscado. As cortinas rompiam-se das janelas, descontroladas, presas aos varões. Havia uma total ausência de discurso nos ecos dos corredores, mas muito movimento e sons guturais, alguns urros, gritos, roupa espalhada pelo chão, vómito a azedar, esquecido, enfermeiros decapitados, um crucificado no armário dos produtos de limpeza, de cabeça para baixo, com dois toros grandes que nenhum homem sozinho tinha conseguido erguer, com os pés presos por cordas, e vários pregos nas mãos, o cabelo pintado de branco. Um casal de loucos beijava-se sofregamente, no parque à entrada, tiritando de frio, atrás dos travestis, muito agarrados, em pé, quase imóveis. Ao longe chovia, como quem olhasse para o horizonte com o hospício pelas costas, e depois das árvores. Viam-se as nuvens cinzentas a transformarem-se em chuva; e o céu estava cor de chumbo, e ocre. Uma louca, deixada sozinha, dançava ainda no quarto,com a porta aberta, em movimentos circulares, e com os braços ora ao longo do corpo, ora mexendo-se de forma diferente ao resto do corpo, nunca ultrapassando a cabeça. O cheiro a humidade passeava pelo ar fresco, suave, permanente, como uma nova entidade. Era um reino novo, aquele, um reino feito de novo por pessoas novas, perdidas ainda naqueles corredores de ecos povoados por coisas novas e nos seus próprios, quaisquer que eles sejam, com entradas ou saídas, dependendo da perspectiva de existirem qualquer tipo dessas coisas naquilo que eles viam, e sabiam existir; perdidos, como um nexo desfocado numa ideia singular a todos, unida num propósito comum, certa como eles; desconhecida, trágica na sua realidade, completamente inútil, como todas, em respostas.
O travesti, cuspiu o cigarro com a boca num gesto de diva, ficando a fazer beicinho com os lábios – que não estavam pintados. Com a espátula, virou os hamburgers um a um, com destreza. As paredes do manicómio, com as janelas abertas e todas destruídas, os vidros partidos ou estilhaçados, em formas que faziam lembrar montanhas transparentes bi-dimensionais, as cortinas a esvoaçarem silenciosamente ao vento, como se tivessem um qualquer propósito observavam, caladas ou indiferentes.
As paredes do manicómio em salmão erguiam-se atrás deles, caladas ou indiferentes perante a rotina dos dois pacientes, que pareciam estar em total liberdade. É que o manicómio fora tomado pelos loucos. Orgulhosos, subiam ao telhado e atiravam excrementos lá para baixo. As mãos ficavam cheias de merda, e alguns principiavam a ter sexo uns com os outros, não importa o sexo, um broche em pé aqui, uma enrabadela ao pé da cantina entre a comida violada no chão, no chão laranja e azul plastificado. O cadáver de um dos guardas de bata branca cheio de sangue que parecia um exagero, supunha-se por talvez alguém, repousava em cima de um aquecedor pregado à parede, num ângulo estranho, com um tubo de metal irregular cravado no meio do peito, atravessando-o, dobrando-se no contacto com a parede. Os cabelos de todos esvoaçavam no vento forte com as caras sujas de fuligem e riscos das lágrimas secas. Lá fora, na lama, longe dos dois travestis, uma pira de colchões fumegava, apagada, com um corpo carbonizado no meio e um cão a dormir ao pé enroscado. As cortinas rompiam-se das janelas, descontroladas, presas aos varões. Havia uma total ausência de discurso nos ecos dos corredores, mas muito movimento e sons guturais, alguns urros, gritos, roupa espalhada pelo chão, vómito a azedar, esquecido, enfermeiros decapitados, um crucificado no armário dos produtos de limpeza, de cabeça para baixo, com dois toros grandes que nenhum homem sozinho tinha conseguido erguer, com os pés presos por cordas, e vários pregos nas mãos, o cabelo pintado de branco. Um casal de loucos beijava-se sofregamente, no parque à entrada, tiritando de frio, atrás dos travestis, muito agarrados, em pé, quase imóveis. Ao longe chovia, como quem olhasse para o horizonte com o hospício pelas costas, e depois das árvores. Viam-se as nuvens cinzentas a transformarem-se em chuva; e o céu estava cor de chumbo, e ocre. Uma louca, deixada sozinha, dançava ainda no quarto,com a porta aberta, em movimentos circulares, e com os braços ora ao longo do corpo, ora mexendo-se de forma diferente ao resto do corpo, nunca ultrapassando a cabeça. O cheiro a humidade passeava pelo ar fresco, suave, permanente, como uma nova entidade. Era um reino novo, aquele, um reino feito de novo por pessoas novas, perdidas ainda naqueles corredores de ecos povoados por coisas novas e nos seus próprios, quaisquer que eles sejam, com entradas ou saídas, dependendo da perspectiva de existirem qualquer tipo dessas coisas naquilo que eles viam, e sabiam existir; perdidos, como um nexo desfocado numa ideia singular a todos, unida num propósito comum, certa como eles; desconhecida, trágica na sua realidade, completamente inútil, como todas, em respostas.
O travesti, cuspiu o cigarro com a boca num gesto de diva, ficando a fazer beicinho com os lábios – que não estavam pintados. Com a espátula, virou os hamburgers um a um, com destreza. As paredes do manicómio, com as janelas abertas e todas destruídas, os vidros partidos ou estilhaçados, em formas que faziam lembrar montanhas transparentes bi-dimensionais, as cortinas a esvoaçarem silenciosamente ao vento, como se tivessem um qualquer propósito observavam, caladas ou indiferentes.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Assinar:
Postagens (Atom)