sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Inverno. feat. PJ Harvey.

Chegou o Inverno.
Chegou o Inverno com chuva lá fora e frio de manhã. Tempo cinzento e nuvens pretas, o ocre do pôr e do nascer do Sol já não se vê. Chove, ouve-se PJ Harvey à tarde. E a mais tardes. Os livros escritos e por escrever acumulam-se no quarto. Há um torpor de sono encostados no quente dos sofás. Sair de noite começa a ficar - não uma miragem - desfocada como os edifícios ao longe atrás da chuva preta.
Já não há cigarros na janela à madrugada. Já não se vestem as camisas como uma segunda pele. Eram outros tempos quando se andava nu pela casa durante horas depois do sexo. E o vento corta como navalhas na cintura e no pescoço por entre os casacos.
Está frio. É Inverno. É sempre uma estranha e repentina mudança de status quo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008




Quando o avião se despenhou no meio do deserto (os motores pararam, a tempestade de areia subiu e atravessou-o de parte a parte, partiu-o ao meio, e a explosão da fuselagem empurrou-o para baixo) sobreviveram apenas dezoito homens e quatro mulheres - um bom número para desastres aéreos.
A tempestade fazia-se ainda sentir e só depois de uma noite é que parou. Entretanto, nessa noite, 3 homens e uma mulher tinham morrido, incluída uma criança na categoria dos homens de quase oito anos. A mãe, uma das mulheres, enlouqueceu. A primeira noite foi passada numa confusão terrífica de areia, escuridão, e parecia que o barulho do próprio inferno a tentar reclamar a vida dos que sobreviveram. Animalescamente, juntaram-se todos durante a noite - apesar da cegueira, dos ferimentos, da escuridão e do terror quase totais, e cobriram-se com farrapos e bancos tacteados no meio da areia.
No segundo dia, tentou-se procurar comida e criar um abrigo improvisado com a carcaça do avião que sobrara, logo ali ao pé,
(Olhou-se para o céu: O Sol procurava negar qualquer esperança de humanidade reencontrada. Temos todos vidas, estamos todos aqui, e aqui estamos, reduzidos a nada, à espera de)
Para proteger as mulheres e os mais fracos.
Ao terceiro dia enterraram-se os mortos e morreram mais dois homens. Outros dois tentaram encontrar a outra metade do avião, que teria as bagagens, e quem sabe, mais sobreviventes, mas não voltaram mais portanto morreram. A água racionada acabou e a comida acabou nessa noite.
- Estamos todos fodidos! Estamos todos fodidos!
Gesticular e andar por aí a gritar gasta energia - e água. Portanto acalma-te. A mulher louca estava quase morta e um dos homens já mais velhos morreu também. Nesse final de dia o homem que tinha passado pelo primeiro momento de descontrolo destruiu o rádio que teimava em não funcionar.
No dia a seguir foi outro dos homens que perdeu o controlo e começou a chorar no meio da areia. Apanhou uma insolação e ficou bastante doente, apático, e a mulher louca morreu. O calor e falta de água estavam a matar lentamente os sobreviventes.
Um dia depois morreram quatro homens as outras mulheres e no dia seguinte morreu toda a gente.
O avião despenhou-se - uma confusão de bagagens, máscaras de oxigénio, tudo isso que se sabe mas que não se sabe de facto porque nunca chegámos a sentir joelhos em cima das nossas cabeças e uma enrome pressão no peito ao mesmo tempo que os nossos ouvidos parece que vão rebentar em sangue enquanto sabemos, que vamos morrer e que é agora, a minha vida, e de repente percebemos, A MINHA VIDA VAI ACABAR AGORA, enquanto sentimos um desespero palpável ao sabermos que não conseguimos proteger as pessoas de quem gostamos que vão ao nosso lado, se forem no mesmo avião que nós, e as janelas rebentam e entra areia do deserto fria, fria no avião, há pessoas a voar e leds vermelhos a piscarem no meio do barulho ensurdecedor, e o avião parte-se ao meio, os pilotos morrem aos comandos enquanto tentam aterrar o avião numa duna para tentar amortecer - amortecer - a queda entre a escuridão quase total que o deserto proporciona. Já há o cheiro a sangue quente no ar e ainda não se viu propriamente ninguém a morrer, mas parece que toda a gente morreu. Há pequenos incêndios, fumo, e areia, areia e vento que atingem as pessoas que ardem e sangram das contusões ou já jazem nas suas cadeiras inconscientes, algumas sem braços gritam apenas debilmente, e a noite de terror passa, mas toda a gente morre, toda a gente morre naquele avião e no dia seguinte, os que se safaram, vêm o Sol a nascer, a tempestade a acalmar, e ainda, tentando perceber e reorganizar a própria noção de estarem, por enquanto, vivos, sentem esperança.
- Achas que vamos sair daqui?
E os dois homens, António um, Nuno outro
nomes traduzidos para português
Olham para o Sol na sombra da carcaça do avião, um pouco afastados dos outros, com turbantes improvisados na cabeça e mãos a segurarem os joelhos em posição relaxada, e Nuno diz
- Sim, porque repara, já estávamos a mais de metade do deserto, e o voo não é de uma companhia qualquer, somos turistas europeus. Vão-nos encontrar de certeza.
Continua - Sabes que os computadores agora do avião - aquilo é muito bom para a nossa situação. Porque estão sempre a comunicar com a torre a dizer qual é o sítio - as exactas coordenadas, percebes, onde estamos, a esta altura já devem andar por aí os helicópteros.
- Então - e diz António, olhando brevemente para o Sol como se já esperasse ver algum vislumbre de alguns salvadores pontos negros no horizonte - quando é que achas que eles nos devem encontrar?
- Este é o terceiro dia… Mais um dia, dois dias no máximo. Eles já estão mesmo aí. Devem estar a chegar.
- Também temos sorte. Temos racionado bem… as coisas. Ainda temos água para amanhã, se tivermos cuidado, e ainda há ali umas… sandes.
- … O que eu só quero é voltar para casa. Maldito Sol.
- Se nos safarmos, vamos prometer que nos vamos ver pelo menos uma vez por ano, todos os anos. Eu vou ao teu país e tu vais ao meu. Quando nos vierem buscar.
- Sim. Eles vêm mesmo buscar-nos. Já não estávamos no meio - está prometido. Haaa, e agora - disse pondo a cabeça para trás.
- Sim - agora o Sol está a saber bem. Já não estamos no pico do calor. Enquanto as dunas, imóveis, os olhavam e serviam de paisagem, amarelas.
- …Está mesmo prometido,

sábado, 25 de outubro de 2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

random quizzes às onze da manhã




You Should Be A Poet



You craft words well, in creative and unexpected ways.

And you have a great talent for evoking beautiful imagery...

Or describing the most intense heartbreak ever.

You're already naturally a poet, even if you've never written a poem.




In your face, Balhote.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Embrace Change (update: link corrigido)

Os mega-eventos de Verão sempre foram, precisamente, de Verão - sazonais, com modificações statusquonianas (viste mãe, inventei agora mesmo uma palavra nova) em certas personagens mas abalando pouco o sistema e o universo habitado pelas personagens, e com uma conexão sempre frágil entre títulos, e histórias, mantendo estes sempre uma razoável autonomia.
Mas não agora. Agora, eventos são planeados com mais de meia década, e um torna-se automaticamente o ponto de partida para outro. Primeiro uma Guerra Civil. E agora uma Invasão secreta.
Extravasa, também, para fora do próprio universo onde o evento é suposto acontecer. torna-se um acontecimento. Gera especulação na internet - o buzz de que sempre se fala. Interage-se com o público em mais maneiras do que apenas a primitiva, original. Mais orgânicos, no fundo. Pede-se mudança. O universo expande-se. Não conseguimos seguir tudo num só título. As coisas tornam-se mais interessantes. Mas a magnitude - que cresceu de forma demasiado acentuada - da coisa levam a uma frustração do próprio público. E a uma carteira mais leve. Pedem-nos mudanças mas não há dinheiro para a compreendermos.
Resta-nos passar ao lado de mais uma crise mundial e eserar que o universo fique na mesma quando o Verão (e já estamos em Novembro...) acabar.

domingo, 19 de outubro de 2008

:56

Je suis dans la plage.

J'aime le professour.

Un bisou dans la buche? merci monsieur.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A grande abóbora passou-me isto

la brute


jogo de porrada. Em que não lutam. Estupidamente desafiante. Vão lá e digam-me o que acham. É fácil. E eu não tenho francês desde o nono ano.

Tentei encontrar fotos de rally tascas, mas não há.
O google não é perfeito.

Rally:

Tascas. começa-se a andar e depois a correr e depois há a frustração que se mistura com o calor (sempre no meio de piadas) e depois há um posto que ainda não existe (o terceiro) e depois há andar mais e de repente - diabo. Ao quinto posto já estamos a falar mais alto, a correr e a gostarmos de toda a gente. ao sétimo cantamos, cantamos muito, cantamos até ficar roucos (porque)

a vida te espera
só tu podes conseguir;
as mulheres têm vagina
não podes desistir.

Não é bem Paris por toda a parte, como o stencil nos faz lembrar, mas livros de metafísica grátis 4 em 1 e uma última vez, só uma última vez mais, e até não chegarmos ao nono posto talvez se possa aproveitar tudo - e aproveitou-se. As pessoas encontraram-se todas, as capas (claro) perderam-se, deitando por terra a possibilidade de uma qualquer contagem e vitória - de quê? - , falam-se com aquelas pessoas que percebemos que adoramos, fazem-se amigos novos que merecem sempre pelo menos a partir dali um olá risonho a passar pelo corredor; fica noite. Não se bebe mais nem se fuma mais. O Rally tascas parece não querer acabar, parece estar sempre perfeito, perfeito demais, todos os anos, com atalhos que saem caros, pessoas que não bebem, tipos nos postos antipáticos, desvios que nos fazem perder o fio à meada, as tipas erradas com quem nos metemos, e ainda assim é sempre perfeito, sempre, sempre sempre, perfeito talvez por nós, pelo que estamos ali a celebrar, mas sabes que mais nao m apetece filosofar, dá-me cá a ganza e deixa-me acabar a sangria, que já levo para casa um livro grátis sobre metafísica e mais uma tarde para recordar para largos, pelo menos, no que ela me deixar.

domingo, 5 de outubro de 2008

MÁQUINA

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ARROZ