segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pequenas histórias. o homem e a mulher.

"então e sobre o que é que vai ser o teu próximo livro?"
"ainda não sei bem, mas em princípio deve ser sobre um escritor que não consegue pensar numa ideia nova para um livro"

Um homem e uma mulher conhecem-se. apaixonam-se porque sim, tudo normal. porque é suposto. o amor é uma curva cheia de força, calma na sua certeza, arrebata-nos do peito, mas as suas imagens estão sempre perfuradas por silêncios. ou por algo de contemplativo, como a certeza calma de se saber o que é o amor. apaixonam-se, amam-se. Eu amo-te, Eu amo-te. dizem um ao outro. é simples, é demasiado profundo para se desperdiçar a essencialidade desta frase. Conhecem-se mais. o amor transforma-se. ou cresce, ou revela matizes diferentes com contornos mais ou menos embaraçosos. sémen é engolido, grita-se de raiva no sexo. e há amor nos momentos de solidão em que não estão juntos. amam-se, afinal. foram feitos um para o outro.
Casam-se? Vivem juntos. decidem ter um filho. nasce um filho, um rapaz, uma menina, nas contas por pagar e nas viagens planeadas de antemão, nas poupanças para as roupas dos miúdos, e do infantário, e de mais um carro, e eles - ainda se amam. porque, mais uma vez, é suposto. a vida passa. passa sempre, se tivesse um nome; de fugida, esqueciamo-nos do do meio. sobrava o apelido, talvez. os quarentas. os cinquentas. em cada cabelo branco há uma história inútil de amor. há alguns funerais. os casamentos dos filhos, dos amigos dos filhos. estamos velhos. e já não te amo? quem és tu que agora és uma parte de mim? será que nos amámos verdadeiramente, algum dia? nalguma razão. será que soube que serias eu, neste futuro que veio tão rápido, e que sempre esteve aqui...? sem mais grandes questões, envelhece-se o resto, a história torna-se chata. como o amor, suponho. há uma angústia gigante que nasce do caroço de uma cereja negra no coração de um deles; dos dois. se seria suposto, se a vida fez sentido contigo ao lado. não há grande alternativa ao teu amor. ao amor. quando formos sepultados, lado a lado,