domingo, 27 de fevereiro de 2011

Página 1

Estou a olhar para o céu. Não tanto pelos meus olhos. Causado por uma impressão facial desconhecida, nervosismo; ou pelo vento que possa remexer os meus cabelos, ofuscando a luz, intrometendo-se na focagem ou na noção de profundidade, mas a imagem treme. O céu engasga-se em frames não-fluidos distraindo a calma das nuvens que passam, prazenteiras, mas os seus movimentos contínuos lentos são interrompidos. O céu é azul, mas a cor não se propaga pelos raios do Sol, até me encadear, fazer-me baixar a cabeça contra a relva e ver fantasmas entre uma cor e outra quando confrontasse a relva. Talvez seja eu.
Estou cansado de olhar para o céu, mas não quero parar, não quero parar de olhar para o céu. Não quero parar de olhar para o céu, para esta coisa insuportável. O céu ignora a minha idade. A minha história, as minhas dúvidas. Se tenho uma doença incurável ou se acabei de assassinar uma pessoa. Exijo apenas - ou é ele que mo exige - o assassínio das minhas memórias. O memoricídio até deixar de saber quem sou, poder criar para mim um nome novo. Olhar para o céu. Oscilar entre o cinzento e o branco nas curvas das nuvens que só se afastam, bidimensionais, como este azul sem tonalidade, e, e não me sinto agressivo, ou não sinto absolutamente nada. Acontece-me sempre por esta altura um pequeno arrepio espinal, é a incompreensão misturada com alguma emoção em antagonismo contra a calma de toda esta certa inamovível, o céu. Isso acontece-te quando olhas muito tempo para o céu e decides apenas olhar para ele, sem um momento definido para parares, sem te interessar o sítio onde o fazes, olhas para o céu e chega. Não vou tentar sequer explicar este processo. Os suores frios sabem bem. E fecho os olhos sem medo, pisco-os, porque não há aqui nada que deva ser reverenciado entre mim e o céu, uma e outra vez, algumas vezes mais, e continuo a vê-lo soluçar, a - hesitar, soluçar em quadrículas desvanecidos azuis sem as correcções cromáticas pixelizadas; aceito da mesma maneira esta novidade com que já fiz isto tantas vezes (digo-me, um novo passo na forma de perceber isto talvez), e escolho ainda olhar para o céu, mesmo que ele seja o responsável, sou eu - é a minha forma de ver as coisas, de notar anomalias num espaço onde não pertenço, ou digo não pertencer. Estava - estou - a olhar para o céu há alguns minutos. Costumo cansar-me, ou são as costas erectas, tensas com o meu pescoço curvado para trás, um gajo que se prepare para ficar com o corpo imóvel, claro; de pé, prefiro, o pescoço curvado bem para trás a forçarem os meus olhos piscarem., ou são os próprios olhos saturados de claridade, a relectirem-se nas margens das nuvens ou a desaparecer como a espuma de uma onda alada contra a areia azul - ou é a minha cabeça que formula, sempre, uma qualquer pergunta que, deliberadamente, me interrompa. Eu quero a lucidez acima de tudo quando aceito isto e olho para a porra do céu, quero sentir a minha testa a desfragmentar-se como uma porta arrancada das dobradiças e a sentir que o meu cérebro se enche de ar, ou luz, vento, ofuscando-me a visão das pupilas, até o céu me matar todas estas certezas e esta calma com que olho para ele, o fito e o enfrento; feito o desafio de perceber quem é.
Estou farto de olhar para o céu,. Desço - saio do ponto aberto onde estava, relva e tudo aqui fora num resto que não interessa, a senti-la a dobrar-se por baixo dos meus ténis, é
Qualquer coisa assim

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011



Fica sempre tanto por dizer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Let's Experiment: Fim.

No fim do tempo há introduções a quente e
memórias desvanecidas sem condição ou ordem que
sem dono agora
rugem e
andam e
falam como coisas
vivas Há
imagens de arquitecturas e janelas quebradas a meio
Há algum tempo atrás quando o tempo
ainda tinha um nome Via-se o tempo nos olhos
das tempestades e do céu e esse tempo tinha cor e cheiro tinha
Nomes tinha início
e fim Vêm-se entropias e indiferenças
perante os castelos de sanidade destruídos encapsulados
Em caixas são provas de que os quartos sem portas
existem e havia também tormentas de outros fins alguns
impérios, alguns
As coisas são sempre cheias de força.
Rectas ou curvas as coisas insurgem-se e gostam de toda
a matéria ainda que cada - cada pormenor pareça
a foda
da incompreensão
total.
Havia arquivistas há-os ainda pelo menos sozinho aqui Eu
Mas desisto e sei
Que vou voltar.
Sei que no limbo há coisas novas para explorar.
Sei que cada periodo e cada espaço e cada nave
E cada
faca são interacções
os sonhos devoraram a vida toda e morreram nesta praia ela
raia o final perfeito
Aqui chegados - suicidaram-se, o que é o sonho sem a miragem sem
a contemplação do improvável.

Intocável, a fortaleza no fim do tempo
ou inexpugnável Mas
as respostas deixei-as para o antes
Para a dúvida da beleza e para
a certeza das viúvas
para o absoluto da morte e para a conjugação final de mais um
êxtase
O
fim não é o fim
Disse o tolo
E esse porque
não sabe nunca
Mente.

Let Us Experiment - introdução

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Let's Experiment, pausa.

Como te chamas
Alguma onomatopeia em forma de nome
Não
Só ____
Muito bem
Só _____
Os teus olhos
Que é que olham ou
Como olham
Que lamentos dizem eles entre a pessoa que não és
A pessoa que és ás vezes a verdadeira
Está sozinha / não está sozinha
Não compreendo
Estás só a dançar, sabes
Estás só a dançar séria
Demasiado séria sempre entre as curvas da vida, entre
As suas reentrâncias e certezas graníticas de que tudo é maior que tu
Tudo é maior que eu também
Giramos o relógio ao contrário e damos voltas
O presente é inescapável
As projecções de nós suspiram
"Não"
Sempre "Não". Não ouves
Que interessa, ____
Não vais perceber, pois não
Não vais perceber nunca a imprevisibilidade da morte ou a certeza do
fracaso
que vai ter um nome e um dia vais ser tu
_____
Tu e apenas tu e dirás

PÁRA
VOLTA ATRÁS
LEMBRA-TE DE QUEM ERAS QUANDO DANÇAVAS, AINDA ÉS TU

Desistirás de novo

PÁRA
VOLTA ATRÁS
LEMBRA-TE DE QUEM ERAS QUANDO DANÇAVAS, AINDA ÉS TU

Não vai acontecer a fraqueza dos membros, o adormecer dos olhos, a contorção seca do turbilhão negro que repousa entre os teus lóbulos

"pára, volta atrás" vais dizer ______
Talvez
Talvez voltes atrás para me avisares que esta conversa
Seria sempre
Inútil
Sempre

PÁRA
VOLTA ATRÁS
LEMBRA-TE DE QUEM ERAS QUANDO DANÇAVAS, AINDA ÉS TU

Dizes gritando
em pânico
Mas hoje
Parece só um cântico

Let's Experiment: no espectro

1.O reflexo mostra que estamos perante uma presença de nível gama e nada disto pode significar algo de bom para mim, mas o meta-Zé está preparado para contar com o inesperado referindo como já disse o facto de me encontrar ainda numa fracção tempo-espacial em que as únicas coordenadas que tenho são a pobreza de azoto no ar e um pequeno humanóide que comunicou comigo fazendo sinais luminosos. Estou preso num planeta onde as ruínas de qualquer civilização existente se compõem de frágeis pedaços de rocha por transformar em pó abrigadas em gruta e distintos pedaços de ferrugem de metais que terão brilhado num tom esverdeado antes da corrupção. É o ano de 3412, e estou encarregado de me dirigir até à Terra-2 e questionar sobre os progressos de reanimação do nosso Sol, o seu suicídio físico iminente, mas tudo desapareceu. Este não pode ser o mesmo lugar ao qual vim um mês antes. Só podemos avançar em frente, e voltamos para trás ao mesmo ritmo, não pode haver qualquer corrupção espacial.

Onde estou?

2.É lógico que esta é a Terra 2 que, um mês antes, era constituída por dois pólos verdes de atmosfera e prosperidade de carbono. algo a destruiu e a certeza da humanidade não se regista sequer em ossadas. não quero voltar ainda para trás. O Sol continua, grande, vermelho, em fim de vida mas o resto - foi-se. Como recuperar uma civilização perdida? Como voltar atrás e avisar-me do meu futuro? Tenho de avançar em frente para conhecer a resposta. Ao tempo normal dobrado sobre mim na segurança do meu casulo. Vejamos o que acontece.

3. Os dias apenas passam.

4. A presença de nível gama fez-se sentir outra vez no espectro infravermelho, mas não há nada aqui. Não há memórias ou coisas, não há definições que me ajudem a compreender com os meus olhos de primata o que é e o que não é.

5. É um monstro de olhos cansados que me olha
Está sentado à minha frente e tem entre 5 e 6 metros de altura
Sentou-se em cima de um monte e não procurou contactar comigo
Deixei-me atrair pelos seus olho tristes e tento falar
Não me responde
Começa a desvanecer-se de novo no espectro infravermelho
Não tenho medo
Vou voltar para trás.
"O futuro é indiferente para o meu presente", e voltarei
Voltarei para te matar antes de destruires a Terra
Voltarei para cantar o teu fracasso e avançar
Até ao fim até ao fim do tempo ATÉ
ao fim do tempo

Let's Experiment: Ebb Away

Larga o destino. O destino acontece quando estás ocupado a renegá-lo. Desiste e deixa estar.

A avó de_____ era uma mulher inexistente se pelos cânones em voga de humanidade a considerássemos de carne e osso capacidade de gerar crianças etc etc etc era uma força antes isso sim diminuída pelo silêncio do tempo de som mas não de presença que decerto teria algo a dizer ao seu presente se, jovem, se encontrasse agora, "bem feito, parece-me" sem ponta de sarcasmo ou com os dedos e os braços esticados a pedir compreensão ao ar entre as duas, vamos voltar na cápsula do tempo "encantada" adormecer nos braços um do outro enquanto as nossas essências puxadas se comprimem nos prognósticos de impossibilidade que decidimos negar e o destino nunca assim nos trocou as voltas; a mim ou a ti, e o teu neto, o meu filho teve um filho, ele será o meu próprio destino deixa-o estar para onde vamos?, para o fim do tempo, não me interessa.
Leva-me de volta para o presente. Já vi tudo.
Sim.

Let's Experiment: as casas dos mortos

Nas casas dos mortos mantêm-se os bibelots, as cadeiras vazias e quietas as mesas os corredores com mares serpenteantes de partículas de pó manchas solares como carimbos temporais, o fedor cinzento a humidade nos recantos com azulejos a negação de qualquer acontecer e elas são indiferentes ao estalo "quê?" e a amiga "...O que é que tás a dizer puto?!" que estão a acontecer a trinta metros, cinco kilómetros: universos de indiferença espacial. Um empurrão confuso é dado e a humilhação nasce "Foi mesmo o que eu disse gaaaarrraaaaagabahaaaaa!" e dentro da casa vazia a casa está. Quieta. Vazias. Todas as casas dos mortos estão quietas e vazias. À espera. caem nuvens sobre o céu e passam por elas numa indiferença que pode doer se as casas tiverem presença e as nuvens forem: bem, forem. Podem ser, quase que queremos que as nuvens sejam.

O QUE É QUE TU DISSESTE tás doido haa

Pai ouve-me aliás lê-me esta é a minha última carta. pintei uma caveira na minha cara antes da tatuagem permanente. Já contive no peito demasiadas provas de vida que quiseste que tivesse porque dizias que tinhas descoberto o segredo da vida. Mas eu não me descobri a mim, e as cidades dentro da minha cabeça desmoronam-se em tons castanhos como se fossem feitas de areia e barro húmidos, farelo, e há trovões vermelhos num céu vermelho sobre essas cidades, um apocalypse silencioso que não é partilhado. Tenho sede, as células pedem, o meu coração e a minha pila pedem, não sou nada pai, mas tenho um nome, tenho uma caveira na cabeça, eu sou a minha caveira, debruada a ouro, debruada a ouro, lembro-me das canções da minha avó, que me dizia -

Let's Experiment: introdução

Estou a ver-te não tentes fazer nada. Antes que o perigo das tuas visões possa pôr em risco os meus desígnios, huum? Pai, não é isto que eu quero, eu quero mais, eu não quero perceber as coisas para que tu as entendas, eu não quero ver com os teus olhos e eu não quero Wow cala-te estás a verEstou, Estás a ver aquelas miúdas da tua idade vai ter com elas e dá-lhes manda-lhes a tua boca mais porca que tiveres Pai Estás a ver o sítio onde estás eu tenho o carro Pai Eu deixo-te aqui Pai, vou ouvir a canção rock mais fodida que tiver no ipod e isso tu nunca vais sentir e vou chegar lá e vou mandar-lhes a boca mais porca que tiver sendo eu um actor Ha! Sim vou imaginar que és tu (Como sempre) Pai, vou andando.

Pai vou andando

Olá estão a ver o meu, não não posso dizer isto, que merda ver algumas figuras de estilo em forma de pinturas quando olho para qualquer coisa menos mundanas quero papar-te toda olá estás boa está frio sê o teu pai sê o teu pai onde é que elas estão são giras habitam as paisagens dos vivos há quanto tempo é que não me vejo em outros olhos pedaços de papel em tempo dêm-me tempo pai não tenho coragem não não negues a tua força nas ordens vazias dele elas estão, a olhar para mim eu, dezassete anos merda merda merda dezassete anos respira respira merda só me quero ir embora daqui que nome tem este lugar ok O

- Lá

Let's Experiment.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011




O meu filme preferido de 2010.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011




The video material recorded by Japanese television during Baker's 1987 tour in Japan showed a man whose face looked much older than he was; however, his trumpet playing was alert, lively and inspired. Fans and critics alike agree that the live album Chet Baker in Tokyo, recorded less than a year before his death and released posthumously, ranks among Baker's very best. "Silent Nights", another critically acclaimed release, and Baker's only recording of Christmas music, was recorded with Christopher Mason in New Orleans in 1986 and released in 1987.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ok, e ainda isto.

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Costumo escrever coisas - ficção, dir-se-à - e ponho aqui. Alguns pensamentos, algumas notas, algumas piscadelas de olho a quem por cá passa, a mim próprio, piadas que só eu percebo e se eu as percebo isso basta-me.
Fotografias, vídeos, quotes. Ando a retomar a forma num período de sonolência,do qual saí tarde demais. Completamente acordado -

Hoje há isto.


Até amanhã.

Insanely Twisted Shadow Planet

domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Sopa para o jantar. Houve meia hora de street fighter antes.

Mandar um mail, lavar um bocado da loiça para amanhã, filme de zombies a fumar uma ganza.

Quarto. Ver blogue e face. Tomar dois ben u rons 1 grama para a enxaqueca que ganhei com as horas de sono em falta e a ganza. Ficar à espera. Ponderar se pego na Walking dead ou no volume 3 da complete clone saga epic.

Domingo à noite. Daqui a pouco na cama, a ler bds, na minha casa.



A vida é vasta.


Três.
"Hello, I love your blog and I can understand it´s intention, because I opened my also to get more self-confidence. You look wonderful. So I wish you that you will be loved and desired by a man somedays!"

O papagaio de fogo, parte 1/inacabado

Está um vidro estilhaçado na janela reveste a luz das paredes, uma concentração dirimida por duas sombras uma, dentro outra, fora Homem no lado interior da janela uma mulher do lado de fora, do lado do vidro estilhaçado anterior à janela, noutra janela aberta noutro prédio ela nasceu numa miríade de janelas, estavam sete pessoas no quarto e três delas eram verdadeiramente monstros. Noção nublada de um lado a, mulher do outro o homem ambos os vidros um estilhaçado, surripia-se entre o homem uma arfada de passa o tempo implacável ar. Implacável como a mulher de outro tempo enquanto cai álcool sobre os olhos a boca a língua do seu passado exactamente antes de o vidro se estilhaçar, invocando-se os nomes é claro, separa-os o presente-passado que se intrometeu nas suas vidas talvez ele fosse ela antes do respirar fogo, o fogo exige o sonho mas confunde-se com o calor então, tudo é real ou pode ser real à mesma. Foi um milagre, aleluia, que o tipo de fogo é ou seria, e seria ele ou ela, o fogo; aleluia; respira, a mulher o homem inspira ante a falta de outros monstros homens ou animais também se julga queimar e alguém, abre a porta atrás de si o vento espalha-se (e) lambe as janelas fechadas ou, o vento foi ele que entrou ao invés de alguém ou algo cedo, deixará o homem de sentir falta daquilo, que não sabia. As suas costas fervilham, como árvores peludas. Talvez seja tarde demais para ele. Uma chama em forma de osso límpido quebra a falta de concentração claridade junto, as costas voltadas não só aos fragmentos que sente do passado imediato ao próprio, medo também de não querer virar-se, Incinera, louca de fome a, chama que chama a ele próprio numa bala de urgência da mulher ele chama com o calor da sujidade, nublada antes do vidro estilhaça a correcta desfragmentação do batimento do seu coração a cada projecção descoordenada com as ideias humanas da areia fundida cumprimentam algumas a epiderme mas não a amam e continuam antes ainda da projecção chocada de ar pelas, cordas vocais da garganta de forma estridente, e deselegante somos todos escaravelhos num mar de cobalto segreda-lhe ainda um ao rasar-lhe a orelha escaravelhos as, manchas solares servirão de testemunhas na acidez cega muscular pontos, de negro comprovados por uma língua de cortiça no banho de claridade e radiação, serão certos ou verdadeiros

A voltar para casa ontem num carro que não era meu

sábado, 12 de fevereiro de 2011



Primeiro entusiasmo musical de 2011.

Histórias curtas, 2

Hum? Não filha, não podes andar de bicicleta. Porquê? Tenho medo. É perigoso andar de bicicleta, tu não sabes? Quando tinha a tua idade comecei a andar de bicicleta com o meu pai - e - tenho medo que andes. Caí, a mãe magoou-se, muito. Olha, esfolei os joelhos e rasguei o vestido, como o teu, bonito, mas o meu era vermelho - não quero que andes, porque me esfolei mas era só uma menina e doeram-me imenso os joelhos esfolados e nunca mais andei! - Não podes andar. Fiquei com medo não quero que caias e que te magoes. É irracional, é - queres que eu ande? Mas eu tenho medo de andar. O pai nem anda por minha causa, não te vou comprar - tenho medo, filha. Chorei imenso e tenho medo e tenho pena. Não interessa nada filha tenho pena mas não interessa nada. Conduzir é diferente; olha filha. E se rasgas o vestido? Como eu? não ficavas triste? Vale a pena à mesma? Qualquer roupa que se rasgue é roupa estragada. Não te compro uma. Nem podes andar na do vizinho. São perigosas. Conheço uma mãe que um dia estava a andar só, devagarinho - bateu contra uma pedra e sabes qual foi o problema, filha? Caiu mal. a cabeça bateu num lance do passeio e ficou paralisada. Entrevadinha. Sabes o que é ficar entrevadinha, querida? É ficares deitada numa cama e não te conseguires levantar mesmo quando te chamam para ires brincar ou quereres ir à escola. Com um filhinho de oito anos! Oito. anos, filha, oito anos.
Porque é que queres andar de bicileta? É tão perigoso. Não vale a pena! Podes cair e... Eu? Eu já te disse. Rasguei o vestido. Não, filha. Eu já não tenho idade.

Já não tenho idade



Vou escrever, sem querer fugir.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cristina a Acordar

A agonia desaparece todos os dias entre as oito e meia e as nove da manhã.

Os resquícios brancos das imagens desfeitas pela claridade que fura os nichos, imperfeições entre as tábuas e entradas das portadas são uma miragem. O lençol,, cinzento de suor seco está colado ao corpo imóvel, que ainda está imóvel. A cabeça está presa a uma inconsciência que começa a desaparecer. A dar início à tentativa de um gesto ocular. O corpo mexe-se, já é dia, mas ainda não é dia. O sonho foi-se. A oportunidade para se lembrar dele já desapareceu. Está tudo suspenso em imovibilidade. Tudo quieto no barracão de madeira. A penumbra não chega a ser sequer um reflexo da luz que vem de fora, é pálida, escura. Vai aclarar quando o Sol subir. No canto oposto à cama, à esquerda, estão as panelas de ferro, dentro das gavetas de um armário antigo, de madeira, a pender para a frente. As portas de madeira e vidro estão soltas, abertas, e as panelas vêm-se. Empoleiradas. À esquerda uma pequena janela, cortada nas tábuas, corrida por um pano verde. À direita do armário um lava-loiças com um tubo de metal curvado em bengala a fazer de torneira. Parece haver uma ameaça de frio, da aragem matinal. A rapariga levanta a cabeça, a tentar fazê-la ficar perpendicular ao peito, a olhar para a parede da direita (onde a sua cama está encostada contra os dois cantos) e a porta, de tábuas de madeira verticais com outras tábuas verticais pregadas, mais à frente. Pela porta, à altura do pescoço, nas frinchas verticais entre as tábuas verticais, também entra a luz seca da madrugada.

Pisca os olhos quatro,, cinco vezes,, devagar, enquanto volta a perceber que pertence a este mundo. Imóvel. O barracão está tão estático, tão parado para além dela, que pode haver-se a ilusão de que ele configura os limites de tudo aquilo que existe, único; na fronteira da entropia, do vazio absoluto., mas há apenas essa ilusão. A claridade da penumbra cresce, desvirgina a madrugada, fá-la perceber que o que está lá fora ainda é real. O mundo ainda permanece. Pisca os olhos mais algumas vezes. Devagar. E, ensaiando um desisitir, com o afundar lento da cabeça no colchão, finalmente levanta o mais que pode e olha para a porta. Não há ainda nenhum pensamento na sua cabeça. Não há nada. Ainda não é manhã, mas vai ser. Como sempre, acordou cedo. O corpo mexe-se, os joelhos. Os pés no fim das pernas esticadas. O joelho flecte-se devagar, volta a deixar cair a cabeça. Que dia é hoje,? Ás vezes passam temporadas sem saber o dia certo, da semana, do mês. Todos os dias são iguais, com Sol ou chuva - já não se lembra do que sonhou. O sonho fora-se. Já não se lembra como se sonha. Os olhos abrem-se de vez contra a janela fechada,, o corpo volta à vida. No barracão, fechado para o mundo lá fora, onde está prestes a ser manhã,

Cristina

Acorda finalmente.

Pensa que o início da manhã está frio, enquanto se enfia debaixo do lençol para escapar ao toque pegajoso. Não se quer mexer, não quer saber as tarefas a fazer, o cérebro pode adormecer para sempre,, daqui a menos tempo que mais tarde o antes da manhã vai passar - e o Sol nascer todo ao longe, contra as suposições do mar. As águas do Rio também se vão reflectir, mas mais em laivos entre o prateado e o cinzento - olha absorta para o armário suspenso por cima do lava-loiças. Despe-se devagar, tirando a camisa de noite, veste umas calças de ganga. Calça meias grossas. Camisola, casaco por cima. Esfrega a cara, abre a porta do barracão, fecha os olhos, sai.

Alguém a chama



fonte: poowoo

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estava eu na minha cama a dormir sonhando os sonhos de um filho único, quando apareceu encostado a um dos cantos do tecto




O marinheirinho.


Vai-te embora, estás a assustar-me que raio meu

Mas o tipo não se foi embora e deixou-se descair para trás do meu roupeiro cheio de roupas não fez um som

Sempre que entrava n o meu quarto via-o a esconder-se atrás de qualquer coisa, não o voltava a ouvir mas andava por lá a tratar das cenas

Ok és cómico, tá-se bem, podes ficar

Belo Verão

O Marinheirinho apareceu uma vez a uma amiga que foi lá a casa

Tão man disse eu, o marinheirinho já se tinha escondido outra vez. A minha amiga estava com um sorriso nos lábios e meia corada. Tocava lauryn hill no itunes do meu pc. O marinheirinho não apareceu mais nesse dia.

Depois veio o Inverno

E estava sozinho e frio lá fora eu estava doente

O marinheirinho voltou a aparecer no tecto do meu quarto e quando voltei a acordar – quarto limpo de pó

O marinheirinho tinha lambido toda a procaria que estava no chão e eu consegui levantar-me e fazer chá que deixei na porta do meu quarto

Uma semana depois encontrei o marinheirinho dentro dos meus ténis velhos da converse, tinha a barriga inchada

Tinha morrido a comer o pó todo do meu quarto para eu não ficar tão doente

Sacrificou-se por mim o marinheirinho, era altamente

Quando eu não estava fazia streaming de alguns vídeos para eu ver quando chegava a casa

Nunca mais perdi as chaves

Até esse dia

Nunca me vou esquecer do marinheirinho

Deu a vida por mim

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Histórias curtas, 1

- O que é que estás a fazer?

- Estava a pensar em como podem ser bonitos os desenhos numa superfície lisa de marfim. Contra o reflexo da luz, e das nuvens a passar no céu.

- GAAAAAAAY!!!


Fim.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

1

Espera
que o momento passe
e outros surgem
antes

não sei se
ficam
à espera que
os agarres mas
Se
quiseres
Podes
ousar tocá-los.