segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Auto-retrato

Já fui atraído
por memórias falsas.
Já iluminei o espírito
com diáfanas
felicidades
Perdendo-se no ritmo ofegante
do tempo
É o Destino, talvez
singelo, de todas elas


Mastigo devagar as minhas vitórias
é o alimento preferido da lucidez
E sinto pena
Pena perante a certeza do dever
de me manter fiel a este mundo
de luz
e glórias


Serei sempre
Apenas um arquétipo
Um sussurro de como a água
poderia ter sido fresca
e o meu movimento contínuo
Preciso
E vou oscilando
entre o riso e a amargura
da Mentira.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Início dos Novos Deuses - 7; In Absentia

Do Grande Esquecimento
Vieram as memórias
Impressas pela
Luz


Da escuridão
E
Veio a sua feia fiha
Da última a primeira das
Barreiras
Mas o grande pai até a sua filha devorará
Separa-la-à
Até ela virá a roer
Para que não reste
Nuvem ou grito

Só há o Esquecimento
Tudo come no seu negro
Contentamento
Vomitados pela Luz fomos
e só sabemos caminhar
E lembrarmo-nos de todos os sofrimentos
Nem altar
Nem pedra de toque
Invocarás para ousares
seres mais do que calor
Olvida todo o teu amor
Parte em direcção à dor
Foge
Procura a sombra do trono sem
Cores
Nem
Sinos
Até ao limite da ignorância
Do destino.

http://www.youtube.com/watch?v=q23B0vx2g5E

domingo, 19 de agosto de 2012




          Encontrei pela primeira vez esta banda há cerca de três meses atrás, quando me passeava por uma página de tumblr que tem como tema a arqueologia na internet - posta de tudo desde gifs do final dos anos 90, imagens a oferecer sexo virtual na era dos modems de 56k, um bom espaço para encontrar alguma estranheza; era outra, a canção dos blood orange. Tinha, certamente, uma vibe impecável que me levou ao tumblr várias vezes para a ouvir de novo, desconhecendo eu que a canção e o artista são, afinal, very much deste tempo. Hoje, descobri o novo álbum, e é a minha primeira descoberta decente este Verão. Mais vale tarde do que nunca.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012



A japanese tattoo artist works on a yakuza gang member.

domingo, 12 de agosto de 2012

O Início dos Novos Deuses - A Irracionalidade (3)

Sorveste-me a compostura. Apesar de já ter visto quase todas as imagens. Encontra-me no início de cada dia a proclamar que o meu amor por ti é menos pálido e mais redondo do que qualquer Sol. Que qualquer ano a mais passado. Que o tédio de todas as minhas certezas se suspende. Que existe. Pois que importa o que já foi quando o meu olhar ainda pôde encontrar o teu e questionar de novo a existência de um Sagrado? Pois que me ouça a partícula e o cientista. Aqueles que oram de mim diferentes, agraciados pela centelha da constante dúvida. Agraciados, sim. Pois por ti tenho a coragem para dizer que estava errado. Que Deus existe porque tu existes, e tudo me fizeste questionar, no relembrar de todas estas eras. Que há de novo algo para além da escuridão absoluta, um Fim para lá do Fim. Que de novo sinto medo. Excepto se me tiveres olhado; e o medo também nascer em ti com alegria. Não é possível mais eu saber tudo aquilo que me ensinaram. Por ti esqueço-me. Fujo talvez. E sinto-o de novo, como dantes. Prece. Prece. Rezar. Rezar. Oro a este Deus sem nome como prova final. Faço-o lendo o texto proibido para que o saibas. Renego-me.   Porque agora sei a verdade. Somos irracionais. Somos imperfeitos. Porque tudo o que agora quero é viajar contigo até ao limite das estrelas. Desde que estejamos sempre unidos.


[transposto para prosa. A versão original era um poema, mas foi no final mudado]



Acabei de ver Parks and Recreation, a melhor série de comédia actualmente. Não faço ideia o que virá a seguir que me conseguirá prender a atenção.

Talvez algo onde a Rashida Jones apareça nua, e gira, e nua.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Início dos Novos Deuses - A Fuga (2)

E Tynamat
Fugira!
De sala em
Sala pelos portões duplos
da Casa dos Grandes Ursos
E saltou,
Saltou para a Grande Noite
Saltou, fugiu
para o reino dos barulhos
Na Terra aterrou
E Tynamat
Magoara-se
E chorou e suou na hora dos moribundos
E arrancou e esmifrou cada osso
Do seu corpo
E cada brinco atirou
Lançou e fizeram-se
As montanhas
Os rios com os seus cabelos negros
Os homens, salgados das suas lágrimas
As árvores dos seus pelos
As grutas das suas fendas, do seu corpo caído
Fora da Casa dos Grandes Ursos
Tynamat caiu e não volta
Chocalha ainda por debaixo dos vulcões
Treme e abre a Terra em duas
Chorará e gritará
Até os Domadores de Ursos
Chegaram e falarem
Falarem e gesticularem
Dourados e escuros caminhando
Andando até a encontrarem
Foragida
Tynamat.

Tynamat, os filhos das tuas lágrimas 
Só podem existir
Para te proteger e deixar

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O Início dos Novos Deuses - A Mão (1)

              A Mão
              Precede o seu próprio gesto
de criação por si
criada Por esse gesto nasce 
a força e os Fogos. Os fogos das
Cinzas arrefecem
em turbilhão
, gera-se o Homem, quão
belo é o gesto 
Formado pela lama
da criação.


Todo o teu ser é a graça desse
gesto e também
as tuas mãos esculpem 
Outras cinzas´
              O Fogo nas acções e reacções
O reflexo.
Novas mãos criam 
novos fogos gerando
Novos gestos dessas mãos
filhas

Para sempre a graça da Primeira Mão
do gesto eterno
Contínua,
              Continua


[Em palavras espalhadas noutra cor/padrão do poema original: "Podemos ver os ecos da primordialidade da Grande Mão no fumo invocado pelo fogo, a criação verdadeira da Mão               os Fogos" - aqui, no final]


http://www.youtube.com/watch?v=vp1A_QygocY


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Início dos Novos Deuses - Introdução


            Como os meus leitores sabem, tenho colaborado ao longo da minha carreira com várias bandas – pequenos projectos, desde procurar e encontrar bons nomes para álbuns, a definir o feel geral do artwork de um álbum, até algum polimento de letras, pequenos trabalhos de produção, etc. A minha colaboração com artistas musicais começou com um projecto pro bono para o meu amigo Mário Sanchez, mais conhecido como Jazz Sanchez, saxofonista tenor do quarteto Gills que passou, precisamente, pelo nomear da banda e ideia para a capa (uma caixa de produto de restauração capilar, em close-up, deitada, jorrando um líquido transparente e espesso do seu interior para uma mesa com uma toalha vermelha, cheia de borboto, vendo-se no canto inferior esquerdo o início da mancha de produto desperdiçado que, misturado com o pano da toalha, fazia nascer um tom de vermelho mais escuro; a caixa era de formato cilíndrico, maior do que uma mão, pintada em prateado, espelhada, com letras fluorescentes indescortináveis). O meu nome foi-se criando com colaborações com os Sacrossanto (trio death-metal de Palmela), Fuishi Crows, Lamela, The Panopticon, João Berhan ou Dave Mattew’s Band, só para citar uns quantos.

            Foi por isso com ligeira, mas agradável, surpresa, que recebi o convite dos The Mars Volta para ajudar a criar, juntamente com o seu mais novo registo – o álbum Noctourniquet, editado pela Warner Brothers, este ano – um “universo expandido” que deveria sair, mais para o final deste ano, com um dvd da banda com as mais icónicas canções do seu repertório captadas ao vivo – com destruições sonoras e visuais – ao longo da carreira de quase uma década da banda. A ideia seria fornecer novos instintos sobre como ouvir e perceber o álbum, decifrar – através de pistas, com um programa interactivo (the corrupted rosetta), através de pistas espalhadas pelo dvd – as letras escondidas entre cada canção que compõem o alfabeto escondido, semeado por Cedric Bixler-Zavala, a que deu o nome de “cerpin textum”. Ademais, e porquanto o novo álbum agora editado pela banda não obedece a um exercício conceptual, pediram-me para eu o conceptualizar através de um exercício destacado de cada canção com uma história, ou temática, comum, extraindo o sentimento geral de cada uma, abstraindo-me – afastando-me se possível – o mais possível das letras. O álbum teria ainda legendagem em espanhol e – ofereci-me eu para realizar esse trabalho através dos meus contactos no mundo português da tradução – português, mas também sânscrito, urdu e cerpin textum (esta última língua seria cantada por Cedric e, depois, invertida, para que pudesse apenas ser descodificada nos velhinhos leitores de cassete de antigamente, obrigando os mais fiéis fãs a passarem o áudio do dvd para esse obsoleto, e cheio de charme, formato). A mensagem seria, em princípio, passada durante os períodos de experimentação da banda nas canções tocadas ao vivo, extraída dos textos que eu criasse para inserir no dvd, desbloqueados em pdf apenas após se inserir o código na parte interior do dvd, cuja cobertura, de plástico, deveria ser opaca, mais propriamente de um azul-petróleo algo incomum. Ficou ainda no ar, através das conversações que tive com a banda, a possibilidade de eu fazer a capa e verso do dvd, embora necessitasse sempre do beneplácito do Omar (Rodriguez-Lopez) para levar as minhas ideias e visões avante.

            Saltei para o projecto com toda a vontade de o executar e agarrei-o com unhas e dentes, mas o mesmo desmoronou-se quase antes de começar. A editora (Warner Brothers Universal) pretendia lançar o primeiro dvd dosThe Mars Volta na altura do Natal, ou seja, em inícios de Novembro, o que coincidia com o retiro anual zen do Cedric nas tribos africanas Swahillis, e com o lançamento do décimo-quarto álbum de originais do Omar (razão esta que, por si só, não seria grande problema, não fosse o álbum – cujo nome me encontro proibido de revelar – consistir de quarenta duas canções e vir em 3 cds, intitulado cada um “manhã”, “tarde” e “La eterna noche”, cada um com um estilo musical distinto, mas todos explorando o tema da revolução cultural maoísta e o subsequente caos que originou na China, com a destruição praticamente total de toda a sua história). Houve conversas acesas por vídeo-conferência entre mim e os membros da banda, os Volta e a WB, e eu próprio com a editora, que se recusava a ceder às pretensões da banda em editar o dvd em Março de 2013 (dois meses antes do novo álbum dos The Mars Volta, a sair – you heard it here first, folks), conversas onde por várias vezes se perderam as estribeiras e fui acusado de ser “um judeu usurpador de pensamentos e sonhos” (eu nem sequer sou judeu) e “um ditador cruel que só se importava com o seu próprio trabalho” ou “o irmão bastardo do gajo do Napster”. Embora não tenha sido o mais maltratado pelas críticas – fala-se que os The Mars Volta estão a pensar em sair da WB e assinar pela (defunta?) Gold Standard Laboratories e que o teclista foi acusado de ser “um filho da puta cabeludo sem talento que só está aqui para preencher a quota de brancos na maior banda do mundo” – o projecto, por clara impossibilidade em deixar satisfeitas todas as partes, foi interrompido.

            O que restou do projecto foi o meu contributo para a distorção em cerpin texto e formato pdf do aumento do universo Noctourniquet. Para o projecto, escolhi o tema de, por canção, criar um poema, onde o tema comum – como me foi pedido que arranjasse, um tema comum – é o da história da criação de uma religião distinta.
            Uma vez que o projecto foi completamente pelo cano abaixo, deixar-vos-ei, todos os dias pares deste mês, um poema da série “O Início dos Novos Deuses” esperando que possa, um dia, ainda ser chamado para colaborar com a minha banda favorita.
            A não ser que eles voltem a fazer algo do género do Ochtaedron. Se for esse o caso, então que se fodam.

Enjoy.

domingo, 5 de agosto de 2012





Hoje houve Gil Scott-Heron no Outjazz. Para a próxima, levo um livro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Estado das Coisas



Diz que amanhã volto a escrever.

Turn it up, e todas essas coisas.