domingo, 24 de abril de 2011

Voltei a Querer Viajar

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Só tenho de aprender a voltar a casa.





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domingo, 10 de abril de 2011

Acabei de ver o Exit Through the Gift Shop

E as noções do que é arte tornaram-se na mesma irrelevantes/o que é arte pode depender da qualidade ou do que é subversivo/momentâneo em ligação com algo socialmente exterior à actividade/um exercício de dentro para fora que não é nada mais da devolução daquilo que aprioramos em forma de pensamentos/ideias/imagens sólidos, quantificados - e por causa disso sempre imperfeitos/
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Conversas no quintal, 2

- Sabes qual é o problema? Quando as minhas opiniões começam..

- As tuas opiniões.

- Sim, quando as minhas opiniões começam a ser postas em causa -

Dobra-se um prédio, borrões de tinta trepam por ele acima até ao céu, as pontes baloiçam nas fronteiras da imagem.

- Pelo quê? O que é que dizes?

(DOIS TIGRES A CONVERSAR)

- Eu não digo nada. O meu problema é o "eu acho". Ou o "eu penso". E vejo que os outros não gostam muito disso. Por exemplo, estamos a discutir um assunto e eu digo a minha opinião, as minhas ideias, e vejo que isso por vezes não é bem recebido.

- Isso é porque ninguém gosta de ideias formadas por parte de outros numa situação onde essa acuidade mental tem um papel de predominância. Ou quando é necessário chegar-se a uma conclusão por parte do grupo no geral.

- Tigre... Tu odeias-me?

- Eu nunca te odiei. Porque me perguntas isso agora?

O Tigre vermelho produziu um cachimbo debaixo de uma das suas patas e reconfortou-se na posição deitada em que estava no pequeno promontório, enquanto o Tigre de Prata o olhava com uma expressão algo inquisitiva. Algo inquisitiva caros leitores!

- É porque ando numa fase em que, hum... não é que seja assim mas também não tenho muita confiança nos meus dotes de animal selvagem/amigo! Já te quis matar ou discutir contigo tantas vezes que tenho medo que te esqueças como eu sou, eu não sou assim.

- Um Tigre feito de mercúrio.

- Eu não sou feito de mercúrio!

- Isso nunca saberemos - atirou o focinho ao ar, fitou-o de novo com um ar sério - eu nunca me esquecerei de quem tu és enquanto continuar a acreditar em ti.

- Mas as pessoas mudam.

- Não tanto assim. Eu serei sempre um Tigre de Prata.

- Eu continuo à espera que o portal se abra; para, para passarmos para o outro mundo e entrarmos nesse quintal cheio de crianças e mães de crianças e relva e brinquedos, tu sabes - o que eu estou a tentar dizer é -

- Também quero que o portal se abra. Descansa. Eu não me esqueço do mercúrio que um dia te aqueceu os ossos agora repousa no teu cérebro.

- Ah, o célebre mercúrio trans-universal! Com propriedades bem diferentes que o mercúrio do outro lado.

- Em breve ir-se-á evaporar.

No trans-universo, a luz é um nevoeiro.

- Maldito portal! Que horas são isto?

Vida/crescimento: work in progress.

Sem dramas.

Sem pressões.

Chega, a'ight?

Pessoau, vamos recomeçar isto melhores de onde quer que tenhamos saído.




(e cue para a canção do caraças que ainda ninguém conhece. De nada.)

sábado, 9 de abril de 2011


Histórias no Quintal, 1

No quintal banhado pela luz estavam dois animais: um tigre de prata feito de prata e um tigre vermelho em metal martelado e alisado. Cada um estava numa ponta do quintal e os dois conversavam um com o outro.

- Quando é que achas que eles chegam?

- Eles costumam vir por esta hora.

- Há quanto tempo conversamos nós sem dizer nada de novo?

- Há tempo suficiente.

Os dois tigres já tinham sido inimigos mortais há eras atrás, ou tardes, no quintal, quando ainda não tinham decidido esperar que o portal do seu quintal no meta-universo se abrisse para um quintal exactamente igual no nosso mundo: dois tigres poderiam passar para um sítio qualquer (Lisboa, porque não?, há poucos quintais em Lisboa) mas ainda não se tinha aberto nenhum.

- In absentia - começou o Tigre de Prata - já tive uma vez um dobrar de mundo entre mim, quando um poeta e uma pessoa e um vento com nome se meteram todos num barco - Ah, sim, e uma Ofélia - e virou-se tudo do avesso, mas do avesso a um nível maior até um feiticeiro fazer desaparecer tudo.

- Dissolveste-te! - respondeu o Tigre Vermelho - achas que não me lembro dessa história?

- Já foi contada há muito tempo.

- E nunca foi contada uma história sobre mim. Ou pelo menos eu nunca te contei nenhuma minha.

Mas o Tigre Vermelho sorriu! O Sol do do meta-universo dançava entre o céu amarelo e roxo. Era uma tarde calma e solarenga; tudo estava calmo. Apesar de algumas rochas ainda flutuarem entre um planalto e outro, todas as forças estavam equilibradas.

- Tenho-os todos aqui - dizia o Tigre de Prata, abrindo uma das suas patas e vendo-se um globo rodopiante de conceitos e histórias - todos pronto para começar de novo, roubados ás garras da morte.

- Mas o raio do portal nunca mais se abre?!