quarta-feira, 28 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011




A paz à superfície dos labirintos sem fim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O homem que Tinha uma Estrela na Cabeça, parte 2

Uma estrela na cabeça. Uma bola luminosa e massiva composta por plasma mantida coerente pela força da gravidade. Com um gorro vermelho por cima de umas férias passadas na neve, há mais de uma década. Passeia-se por ruas secundárias e parques minúsculos onde os velhos a jogarem dominó desconhecem o estranho milagre que passa por eles personificado num Sr. Sousa com a cara crispada de preocupação. A estrela mantinha-se quietinha. O Sr. Sousa sentia o pulsar cilíndrico e a força das marés de plasma no seu interior a libertarem um calor incomodativo. Chegou a casa preocupado, cansado de pensar, e decidiu ligar à ex-mulher, querendo esmurrar-se na cara enquanto discava o número no telefone.

- Estás a dizer que te nasceu uma estrela na cabeça?

- [suspirando] Achas que estou a… mentir ou -? Nasceu mesmo, nasceu-me durante a noite e não sei o que fazer, já fui a um médico. Diz que não a pode tirar com medo de evitar a criação de um buraco negro ou um efeito de supernova.

-E não te disseram mais nada - ? se crescer ou…

- [Girando o bocal do telefone] Se – se crescer? A estrela pode crescer?

- Bom, não sei. Até que ponto é estável uma estrela? A sua massa não muda até ao fim da sua vida, embora exista uma fusão termonuclear de hidrogénio durante todo esse tempo. Não cresce nem diminui. Mas a ti nasceu-te uma estrela na cabeça, cresceu do nada, durante a noite e tudo, Sousa [até a ex-mulher do Sr. Sousa o tratava por Sousa].

- Pois é… Pois é…

- Já experimentaste tocar na estrela com a tua mão?

- Nem pensar! Já basta o calor e – mas sabes que deixei de sentir o meu cabelo? Será que é possível que a estrela esteja ligada directamente ao meu crânio ou – ou ao meu cérebro?

- Sabes, Sousa? Não sei bem como te ajudar no teu problema mas acho que devias fazer duas coisas em relação a essa estrela?

- Ai sim? E quais são essas coisas?

- A primeira é que deves fazer um cash in dessa coisa mesmo à bruta. Vai ao programa da Júlia, arranja um agente, para começar. Na pior das hipóteses, ganhas uns cobres como atracção de circo e sempre te podes despedir do teu trabalho no PBX. Ainda és entrevistado pelo canal Discovery, e tal…

- Está bem, está bem. E qual é a segunda?

- A segunda? – e a ex-mulher do Sr. Sousa fez uma curta pausa dramática – Acho que lhe devias dar um nome.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O homem que Tinha uma Estrela na Cabeça, parte 1

Um dia o Sr. Sousa acordou e percebeu que lhe tinha nascido uma estrela na cabeça.
Sim, lá estava ela, impossível negar! Apercebeu-se da sua presença quando sentiu o cocuruto bastante mais quente do que o habitual. Algo vibrava na sua cabeça com uma cadência esférica. Levantou-se, olhou-se ao espelho na casa de banho, e viu-a, certinha, branca a irradiar uma luz branca e amarela nas suas decadências de energia, com pequenos pontos cinzentos e beges a aflorarem na sua superfície, manchas estelares, bem comuns na verdade, mas o Sr. Sousa não prestou grande atenção às manchas estelares nem a nada
- Carambas, nasceu-me uma estrela na cabeça!
Saiu a correr – não sem antes ter enfiado um gorro (vermelho) na cabeça para esconder a estrelas que brilhava positivamente, cheia de carácter – de casa, sem tomar o pequeno-almoço [o pequeno almoço do Sr. Sousa costuma consistir em: pão com doce de cereja/morango, sumo compal de pêra/chá/limonada, ou cereais com leite quente], e foi logo ao médico mais próximo de sua casa.
- Então diga lá –
- Sôtora, nasceu-me uma estrela na cabeça!
- E que estrela é essa? – perguntou-lhe a médica, olhando para o Sr. Sousa baixando os óculos – é uma estrela normal ou uma estrela de David, de seis pontas?
- Eu – hã? Uma estrela de – o que é que isso interessa?
- Pode ser uma estrela judia – a médica fez o desenho com os dedos no ar de uma estrela de David – Uma – está a perceber? Uma estrelinha judia. De judeus. Assim judia, a estrelinha. O Sr. é judeu?
- Eu não sou judeu! – E o Sr. Sousa tirou o gorro vermelho para não haver mais confusões sobre a natureza do astro de que se falava – é mesmo uma estrela, faz-me imenso calor na cabeça e tudo, ainda pensei ser outra coisa mas não, é mesmo uma estrela!
- Ainda bem, não se pode confiar neles, nessa malta – a Doutora levantou o rabo da secretária e chegou-se à frente para observar melhor a estrela, boca ligeiramente aberta de como quem não está, particularmente, surpreendido com o desconhecimento que lhe é apresentado à frente dos olhos – Pooooois é, é mesmo uma estrela. E não é das judias. Sabe que eu sou uma psiquiatra, Sr. Sousa, não percebo grande coisa de… O Sr. fazia melhor em ir a um dermatologista.
As notícias não foram as melhores: a estrela (“Bem bonita, por sinal, branquinha e toda redonda, e o calor não queima particularmente a quem está perto”, disse-lhe o médico) parecia fazer parte da cabeça do Sr. Sousa, nascendo e crescendo no lugar dos cabelos, e não se arriscava a tirá-la –
- Até porque há o risco de provocarmos um efeito de Nova ou de buraco negro, conforme a estrela liberte toda a energia dentro de si fora do corpo que lhe deu vida ou imploda sobre si com o peso da sua energia convertida em gravidade. Física, homem, física.
- Mas… mas não posso tirá-la? – O Sr. Sousa ficou quase tão branco quanto o corpo celeste a habitar a sua cabeça terrestre: vou ter de ter uma estrela na cabeça a minha vida toda! – Como não posso tirá-la?
- Acha que eu quero que nasça um buraco negro na minha sala e que depois seja necessário evacuarmos o planeta Terra em menos de uma hora? Habitue-se, Sr. Sousa, há deficiências piores.
Mandaram-no para casa com uma receita de Ben-u-ron: “Se tiver dores de cabeça; nunca se sabe”.
Uma estrela na cabeça.
Perfeito, pensou o Sr. Sousa.

A seguir: parte 2.


HOUVE UM HOMEM

A QUEM LHE NASCEU
UMA ESTRELA NA CABEÇA

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

"Her eyes were HD Green"

O meu pai está a dormir. Cruxificado ás ripas da cama desfeita, onde ontem ainda dormia, amarrado com fios eléctricos de várias cores, ver-me-lho sangue, verde e bic a-zul. Na primeira manifestação desse acontecimento havia um cão, um pastor alemão, uma casa com vários andares com panópticos acidentais em lugares distintos, e uma mãe ausente. Desta vez, é real, aqui, eu estou desperto; há música a gritar. )Já o encontrei antes(. Estou cansado demais (par)a observá-lo. O meu pai vai morrer, mas não parece ser, ainda, hoje. O seu silêncio continua a ser permanente. O meu pai nunca fala nestes momentos. As mãos e os pés não estão furados por espigões, só os fios eléctricos o prendem. Tenho sede. Ele dorme, eu estou, infelizmente, com o olhar doente de quem as insónias são o fio condutor da claridade dos dias. Está bem, pai. Não sei porque é que te manifestas assim. Mas a minha mãe ainda está ausente. Esta música que grita não me insulta. Tudo é mito, tudo é conceito e significado. Chega por agora pai. Só quero acordar, acordar de vez, e escrever sobre olhos verdes em alta definição.

Em HD

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A parede branca à minha frente parece cada vez uma tela por pintar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Fugir para a Frente




Sinto a falta do meu amor
Onde está o meu amor
Onde foi o coração do meu amor
Não sei
Não sei


Pergunto ao vento e para dentro
E para fora de mim mesmo
Onde está o meu amor
Acabam-se as canções
Mudam-se os tempos, os dias
São outras as luzes fugidias
As ilusões
E eu não sei
Não sei
Não sei para onde foi


Sinto-o perto
Ou muito longe
Suponho-o e desisto
De o encontrar
Quando olho para certos olhos
Toco em certos rostos
Perscruto sozinho o mar
Mas por
Vezes
Penso que o reencontro
À minha espera, para o agarrar
Mas dão-se as badaladas da realidade
E com saudade ou sem saudade
Aceito sempre
Deixá-lo voar


E onde ficará ele
Para onde irá pousar
Não sei
Não sei
Não sei