segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Please don't feed the retards

Os deficientes mentais chegavam-se às grades babando-se com as bocas entre os furos de metal preto e plástico verde, as mãos como as bocas, fazendo sons guturais de Uuuumagumma ou blhablhablhaaaaa, arritmadamente e algo lentamente. Como

DEFICENTE UM: Uuumagumaaaa....

DEFICIENTE DOIS: Blhablhablhablha.!

Estavam num jardim zoológico ao lado dos chipanzés, à esquerda, e do matanduá, à direita. Um dos mongolóides, Roberto Silva, tinha estrelas nos olhos e olhava para o céu, à noite, cheio de preto e vazio e pontos brancos de longe lá no cima, pelas grades de ferro da jaula onde passava a noite (apenas uma nesga já que a cobertura por fora da janela gradeada tapava a maior parte da visão do céu), e via muito mais que o céu. Via um mundo, em que não era um estúpido e inútil deficiente mental apenas atracção turística e animal enjaulado sem capacidade de decisão, e imaginava-se uma pessoa normal (o que quer que isso fosse) que, se pudesse e se o fosse, viajaria pelo cosmos onde teria as mais incríveis aventuras - sempre munido de uma pistola presa à cintura ou à mão direita (apesar de Roberto ser canhoto) que dispararia raios laser contra alienígenas verdes vestidos com fatos de plástico duro roxos e azuis-escuros com redomas de vidro a protegerem-lhes a cabeça, e cordas, caso caísse dos penhascos, por engano, dos planetas com paisagens de cristal inteligente e possibilidade da terra mudar como uma pintura numa tela inacabada, como um organismo vivo, e assim como poderia o Roberto morrer?, uma pistola que disparava lasers e cordas mágicas - por algum razão o Roberto é mentalmente deficiente, e está enjaulado.

E depois havia a mongolóide Luísa, tão atrasada mental e limitada quanto Roberto e os outros que lá estavam (Chiquinho, Álvaro, e Pamela), que sonhava não com estrelas ou ilimitadas viagens limitadas aos confins do espaço tal como um deficiente mental o perceberia, mas com a Britney Spears, loira e perfeita, a Britney Spears que um dia iria passar por ali, vê-la, e de algum forma, compadecer-se da sua situação; estender a mão
- Ó meu Deus, o que está esta criança perfeitamente bonita e normal a fazer aqui?!
Tocar na rede gradeada onde Luísa estaria a olhar para ela, com lágrimas nos olhos, admiração e um espanto tão grande que mudo, só com o ranho a correr-lhe do nariz por estar emocionada, e tão emocionada que paralisada, a chorar, a chorar de alegria
- O que é isto, prenderem esta criança? O que é isto? Exijo falar com o responsável do parque imediatamente, vou levar esta criança!
E o sonho de Luísa era alimentado por si própria e pela realidade, porque ela sabia que as pessoas gostavam da Britney Spears, ela era de todos a mongolóide mais preferida pelas pessoas todas, porque cantava sempre sem parar, agarrada à grade, as canções todas da Britney que ela sabia
- H_iiiit mi beee...bi UÁNE moo,óoore (enquanto se babava) TAIme...!
E as pessoas aplaudiam

BRITNEY SPEARS: hahaha olha que giro, puseram as criancinhas atrasadas ao lado dos tamanduás!, e a perfeição loira num vestido preto que foi lá com os filhos de passagem afastou-se, seguido por uma legião de papparazzi que ignorou a Luísa, de coração destroçado, junto ás grades. Tinham tirado o único, o único e mais valioso e precioso sonho de uma vida inteira, à Luísa, e ela ficou, horas, pela primeira vez em silêncio, agarrada à grade com a boca aberta e as mãos a agarrarem-na frouxamente, enquanto as lágrimas corriam, o ranho branco corria, e o choro era silencioso, constante e interminável. Luísa não se matou nessa noite.

Chiquinho amava Roberto. Mas Roberto achava Chiquinho feio, e eles não tinham nada. Luísa dormia com a Pamela, mas desde o incidente Britney Spears que Luísa nunca mais teve, na cela, comportamentos de cariz sexual. Por vezes mostrava a vagina de forma aos visitantes, a meio do dia, mexendo-lhe violentamente como a uma viola, num gesto de insulto. Pamela era relativamente discreta, o Álvaro era o mais feio de todos, porque além de ser tremendamente deficiente mental e completamente estúpido, demasiado estúpido até na sua deficiência para conseguir sentir tristeza ou revolta, na sua condição, era muito moreno e tinha o cabelo muito preto e muito forte.

Roberto sonhava com naves espaciais
Tinham a forma de bolos, e rodas de carro, e

Luísa nunca mais sorriu e
- Olha mãe, olha os meninos atrasadinhos...
E lá estavam eles, junto às grades, agarrando-as com a boca e as mãos, a fazer monifâncias, no pino do dia, no meio do Zoo.

Nenhum comentário: