domingo, 27 de fevereiro de 2011

Página 1

Estou a olhar para o céu. Não tanto pelos meus olhos. Causado por uma impressão facial desconhecida, nervosismo; ou pelo vento que possa remexer os meus cabelos, ofuscando a luz, intrometendo-se na focagem ou na noção de profundidade, mas a imagem treme. O céu engasga-se em frames não-fluidos distraindo a calma das nuvens que passam, prazenteiras, mas os seus movimentos contínuos lentos são interrompidos. O céu é azul, mas a cor não se propaga pelos raios do Sol, até me encadear, fazer-me baixar a cabeça contra a relva e ver fantasmas entre uma cor e outra quando confrontasse a relva. Talvez seja eu.
Estou cansado de olhar para o céu, mas não quero parar, não quero parar de olhar para o céu. Não quero parar de olhar para o céu, para esta coisa insuportável. O céu ignora a minha idade. A minha história, as minhas dúvidas. Se tenho uma doença incurável ou se acabei de assassinar uma pessoa. Exijo apenas - ou é ele que mo exige - o assassínio das minhas memórias. O memoricídio até deixar de saber quem sou, poder criar para mim um nome novo. Olhar para o céu. Oscilar entre o cinzento e o branco nas curvas das nuvens que só se afastam, bidimensionais, como este azul sem tonalidade, e, e não me sinto agressivo, ou não sinto absolutamente nada. Acontece-me sempre por esta altura um pequeno arrepio espinal, é a incompreensão misturada com alguma emoção em antagonismo contra a calma de toda esta certa inamovível, o céu. Isso acontece-te quando olhas muito tempo para o céu e decides apenas olhar para ele, sem um momento definido para parares, sem te interessar o sítio onde o fazes, olhas para o céu e chega. Não vou tentar sequer explicar este processo. Os suores frios sabem bem. E fecho os olhos sem medo, pisco-os, porque não há aqui nada que deva ser reverenciado entre mim e o céu, uma e outra vez, algumas vezes mais, e continuo a vê-lo soluçar, a - hesitar, soluçar em quadrículas desvanecidos azuis sem as correcções cromáticas pixelizadas; aceito da mesma maneira esta novidade com que já fiz isto tantas vezes (digo-me, um novo passo na forma de perceber isto talvez), e escolho ainda olhar para o céu, mesmo que ele seja o responsável, sou eu - é a minha forma de ver as coisas, de notar anomalias num espaço onde não pertenço, ou digo não pertencer. Estava - estou - a olhar para o céu há alguns minutos. Costumo cansar-me, ou são as costas erectas, tensas com o meu pescoço curvado para trás, um gajo que se prepare para ficar com o corpo imóvel, claro; de pé, prefiro, o pescoço curvado bem para trás a forçarem os meus olhos piscarem., ou são os próprios olhos saturados de claridade, a relectirem-se nas margens das nuvens ou a desaparecer como a espuma de uma onda alada contra a areia azul - ou é a minha cabeça que formula, sempre, uma qualquer pergunta que, deliberadamente, me interrompa. Eu quero a lucidez acima de tudo quando aceito isto e olho para a porra do céu, quero sentir a minha testa a desfragmentar-se como uma porta arrancada das dobradiças e a sentir que o meu cérebro se enche de ar, ou luz, vento, ofuscando-me a visão das pupilas, até o céu me matar todas estas certezas e esta calma com que olho para ele, o fito e o enfrento; feito o desafio de perceber quem é.
Estou farto de olhar para o céu,. Desço - saio do ponto aberto onde estava, relva e tudo aqui fora num resto que não interessa, a senti-la a dobrar-se por baixo dos meus ténis, é
Qualquer coisa assim

Nenhum comentário: