terça-feira, 2 de agosto de 2011

Histórias curtas, 3

Luísa emocionou-se aos quinze anos quando teve a sua primeira epifania. Uma noite na rua, em que tudo se conjugou para que a atingisse em cheio com a força que só as epifanias conseguem atingir-nos. A partir daí, entrou simbolicamente na luta pela adolescência e pelo seu crescimento. Com a primeira epifania abriram-se as portas para a descoberta, pelo querer ser melhor à sua maneira, para o peculiar sofrimento pelo desconhecido, pelas confusões que advêm da vida. Cresceu, teve outras epifanias. Cada uma chegava sem avisar. Por vezes procurava-as. Via-as a desaparecer numa esquina ao longe, quando julgava que tudo, de novo, se conjugava para aquele dia ser diferente. Começava a perceber o que as causava. Mas ainda assim cada epifania vinha sem avisar, porque são assim mesmo as epifanias. Luísa deixou de as procurar. Decidiu aceitá-las quando viessem, como tudo o resto na vida. Sorriu e chorou. Foi vivendo, ainda é nova.

A isto chama-se crescer.

Nenhum comentário: