quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ramalah, parte 1

Ramalah

A sociedade era uma sociedade como a nossa, de pessoas e vidas separadas por zonas mais avançadas do que outras divergindo as paisagens meramente em alguma fauna, flora, e arquitectura nas zonas mais antigas ou "históricas"; as pessoas tinham os seus empregos, os seuspassatempos, a sua cultura; as suas religiões, entroncando em denominadores comuns de origem da existência, e da vida, milénios antes. Há algumas décadas atrás tinha-se conseguido, por esforços conjuntos de cada região e das três principais ilhas do globo, colonizar-se um dos dois satélites existentes que, perto da atmosfera da Terra, giravam envoltos numa fina névoa que a generalidade do folclore chamava a estrada dos deuses. Um mais verde, com a superfície maltratada pela colisão de alguns asteróides, e outro mais púrpura, de superfície mais limpa, que o povo entendia ter uma natureza mais feminina, e era este que tinha sido colonizado há alguns anos atrás por uma equipa de astronautas, cientistas, e só agora se estavam a considerar os efeitos da gravidade heterogénea - que oscilava consoante a passagem da Lua verde por dentro da própria órbita da Lua púrpura - na primeira geração de alguns meninos e meninas que nasciam nas bases científicas, gerados no modo tradicional entre os cientistas homens e mulheres que Habitavam - os seus humores oscilantes e as suas alturas ultrapassando os dois metros pela puberdade, devido à fraca gravidade.

Era uma sociedade que se preparava para entrar "no futuro", como assim o sentia, e estava feliz porque a idade contemporânea não tinha, ainda, destruído a civilização engedrando, subconscientemente, o seu auto-devoramento. Há meros dois séculos atrás o destino destes homens e mulheres que viviam neste planeta com duas luas e caminhavam bípedes e falavam algumas línguas motivadas pelo afastamento das três principais ilhas pelo globo que geram, como se sabe, divergências na cultura, na forma de estar e até em traços físicos, estéticos e práticos consoante o clima e a geografia, fora pela primeira vez traçado quando físicos e cientistas detectaram um largo asteróide em colisão com a Terra. Noutros tempos, mero meio século atrás, o tamanho do asteróide teria sido suficiente para obliterar grande parte da vida pluri-celular. Mas nesse dia as nações do planeta uniram-se para descortinar a melhor maneira de destruir o asteróide ou desviá-lo da sua rota. O plano resultou, com o lançamento de uma ogiva nuclear que detonou perto da superfície do corpo celeste, tendo levado o mesmo a quebrar-se em dois e uma das metades ainda hoje, provavelmente, se encontra a navegar pelo espaço; a outra seguiu um rumo inesperado e chocou contra a Lua púrpura, provocando uma chuva de meteoros e estrelas cadentes que não teve impacto de maior. O que deixou no próprio satélite, porém, teve muito mais impacto para a população humana desse planeta: uma cratera, grande, observável a olho nú, numa Lua que, com a outra, ocupava cerca de um décimo do céu visível, excepto quando a órbita da Lua púrpura a punha do lado oposto da Lua verde, escondendo-a, assinalando com isto o ano novo para todos na Terra. Uma cratera que, perfeitamente circular com os seus laivos verticais desde o ponto de impacto até ao seu horizonte de eventos, foi entendida por todos como o sinal derradeiro de que, agora, dominava-se verdadeiramente o próprio destino. Um sinal de que o presente seria a partir daí esse momento, e o passado, ou a ideia do passado, estaria defenitivamente deixada para trás. O que viria depois só poderia ser entendido, no depois desse próprio depois, como um futuro anterior. O Homem vira-se, de repente, na necessidade de não mais correr com o intuito de fugir. Agora era o dono do seu próprio destino.

E assim a sociedade evoluiu e prosperou mais, com o objectivo, agora comum, de evoluir cada vez mais e mais, procurando esquecer as quezílias de natureza económica que durante tanto tempo tinham dominado a vida dos seus antepassados e trisavós e bisavós, ecos de um instinto de sobrevivência do mais forte cada vez mais desconexo com o seu verdadeiro propósito. Mas não nos enganemos: não eram superiores a nós, eram apenas pessoas que tinham, finalmente, descoberto o seu verdadeiro propósito enquanto espécie, e decidiram fazer disso a meta comum das suas existências. Estavam preparadas para o futuro.

Mas eis que, um dia, o impossível aconteceu. No passado, estas pessoas tinham tido as suas vindas de deuses e os seus profetas; dizia-se até que as montanhas de Ráma e Lá (estruturas rochosas fazendo lembrar pirâmides invertidas que os mais brilhantes engenheiros não conseguiam compreender, factualmente, limitando-se às conjecturas, como se mantinham ainda em pé ou como tinham sido escavadas) tinham sido construídas não por uma antiga civilização mas sim a mando directos dos dois deuses: o Tudo e o Nada, a sua contraparte, pois para esta civilização tudo tinha uma dualidade e nada poderia ser verdadeiramente uno: existe em tudo o contrário mesmo no interior de algo singular; não existia, sequer, nenhum número que indicasse a unidade na matemática deste povo, pois nada é meramente inteiro e só. Os seus deuses Ráma e Lá, de acordo com as profecias, criaram a dualidade una pela primeira vez no universo, manifestações dos seus próprios contrários (na verdade, um e outro), no planeta onde os homens habitavam: os homens. Ráma e Lá criaram o homem - e no seu contrário de dualidade criaram também a mulher, ao mesmo tempo, e ainda no presente homens e mulheres não tinham encontrado a definitiva resposta sobre quem tinha sido feito à imagem e semelhança da dualidade una de cada um. Quando os homens aprenderam que a única unidade eram eles, por terem em si a chama sagrada dos criadores do universo, Ráma e Lá partiram; Deixaram as duas Luas, como recordação da sua passagem pela Terra, tendo também criado e instruídos os primeiros sacerdotes - homens por eles escolhidos para perpetuarem os seus ensinamentos - para redigirem as palavras sagradas em todas as superfícies de todas as maneiras possíveis; e para tentarem descobrir em que coisas era Ráma e em que coisas era Lá; se o homem, se a mulher; quem tinha criado o quê; o que pertencia verdadeiramente a quem. Dizia-se que, quando a raça humana finalmente o descobrisse, os deuses voltariam e, finalmente, dariam a conhecer aos homens as chaves para ultrapassarem as barreiras físicas dos seus corpos e criarem novas dualidades e, quando morressem, finalmente encontrassem a verdadeira Unidade. Mas tinham-sepassado já alguns milénios; os profetas da vinda dos deuses eram cada vez menos, principalmente no último milénio, e contestava-se já a veracidade histórica dos seus feitos, dos seus milagres. Uma ateísmo mais pragmático, potenciado também pela destruição do asteróide e evolução e revolução mentais humanas, bem como várias variantes de agnosticismo e espiritualismo afastados de ideias religiosas pré-concebidas, floresciam. a sociedade avançava, e a religião começava naturalmente a ser posta em causa, e sim, era belo vê-lo a evoluir tendo conseguindo vencer o ponto de ruptura da perenidade da sua existência. Mas esse impossível acontecera num belo dia, num normal e simples dia de Sol nalguns lados e de chuva noutros, em que os deuses regressaram.

3 comentários:

Tigre Azul disse...

o meu proof-reading continua a ser sofrível. Terei mais cuidado para a próxima.

Anônimo disse...

Ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah, ramalah,ramalah, ramalah, ra-ma-laaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah.

é tudo o que me assiste dizer.

humpf.

Tigre Azul disse...

prova provada que até um atrofio se pode transformar numa boa ideia, pecébes?!