terça-feira, 13 de setembro de 2011

O homem que Tinha uma Estrela na Cabeça, parte 1

Um dia o Sr. Sousa acordou e percebeu que lhe tinha nascido uma estrela na cabeça.
Sim, lá estava ela, impossível negar! Apercebeu-se da sua presença quando sentiu o cocuruto bastante mais quente do que o habitual. Algo vibrava na sua cabeça com uma cadência esférica. Levantou-se, olhou-se ao espelho na casa de banho, e viu-a, certinha, branca a irradiar uma luz branca e amarela nas suas decadências de energia, com pequenos pontos cinzentos e beges a aflorarem na sua superfície, manchas estelares, bem comuns na verdade, mas o Sr. Sousa não prestou grande atenção às manchas estelares nem a nada
- Carambas, nasceu-me uma estrela na cabeça!
Saiu a correr – não sem antes ter enfiado um gorro (vermelho) na cabeça para esconder a estrelas que brilhava positivamente, cheia de carácter – de casa, sem tomar o pequeno-almoço [o pequeno almoço do Sr. Sousa costuma consistir em: pão com doce de cereja/morango, sumo compal de pêra/chá/limonada, ou cereais com leite quente], e foi logo ao médico mais próximo de sua casa.
- Então diga lá –
- Sôtora, nasceu-me uma estrela na cabeça!
- E que estrela é essa? – perguntou-lhe a médica, olhando para o Sr. Sousa baixando os óculos – é uma estrela normal ou uma estrela de David, de seis pontas?
- Eu – hã? Uma estrela de – o que é que isso interessa?
- Pode ser uma estrela judia – a médica fez o desenho com os dedos no ar de uma estrela de David – Uma – está a perceber? Uma estrelinha judia. De judeus. Assim judia, a estrelinha. O Sr. é judeu?
- Eu não sou judeu! – E o Sr. Sousa tirou o gorro vermelho para não haver mais confusões sobre a natureza do astro de que se falava – é mesmo uma estrela, faz-me imenso calor na cabeça e tudo, ainda pensei ser outra coisa mas não, é mesmo uma estrela!
- Ainda bem, não se pode confiar neles, nessa malta – a Doutora levantou o rabo da secretária e chegou-se à frente para observar melhor a estrela, boca ligeiramente aberta de como quem não está, particularmente, surpreendido com o desconhecimento que lhe é apresentado à frente dos olhos – Pooooois é, é mesmo uma estrela. E não é das judias. Sabe que eu sou uma psiquiatra, Sr. Sousa, não percebo grande coisa de… O Sr. fazia melhor em ir a um dermatologista.
As notícias não foram as melhores: a estrela (“Bem bonita, por sinal, branquinha e toda redonda, e o calor não queima particularmente a quem está perto”, disse-lhe o médico) parecia fazer parte da cabeça do Sr. Sousa, nascendo e crescendo no lugar dos cabelos, e não se arriscava a tirá-la –
- Até porque há o risco de provocarmos um efeito de Nova ou de buraco negro, conforme a estrela liberte toda a energia dentro de si fora do corpo que lhe deu vida ou imploda sobre si com o peso da sua energia convertida em gravidade. Física, homem, física.
- Mas… mas não posso tirá-la? – O Sr. Sousa ficou quase tão branco quanto o corpo celeste a habitar a sua cabeça terrestre: vou ter de ter uma estrela na cabeça a minha vida toda! – Como não posso tirá-la?
- Acha que eu quero que nasça um buraco negro na minha sala e que depois seja necessário evacuarmos o planeta Terra em menos de uma hora? Habitue-se, Sr. Sousa, há deficiências piores.
Mandaram-no para casa com uma receita de Ben-u-ron: “Se tiver dores de cabeça; nunca se sabe”.
Uma estrela na cabeça.
Perfeito, pensou o Sr. Sousa.

A seguir: parte 2.

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