sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cadernos de Santiago, 6



As lezírias de ferro salpicam o meu pão, a minha sede, com promessas de mulheres. As engrenagens caem nessas planícies, nos fundos escuros da minha garganta porosa, porosa, cinzenta. Há demasiados esforços falhados de transformações de mulheres em lixo, prédios férteis. O pó preso às suas paredes. Caem, em flocos microscópicos sobre a comida. Sobre o hamburger cuidadosamente preparado. Empratado num prato em forma de trapézio, a ser lambuzado em breve. Sobre o arroz de tamboril. Uma previsão – uma profecia. Ninguém ouve o cantar sobre as previsões falhadas de Nostradamus, nem das minhas. Torna-se um exercício redundante.
                Na enseada, a ferrugem ácida do mar esburaca-me o peito. Voando sobre ondas alfa, afasto-me da maresia, espero que a noite caia. Não ouso chorar perante os perigos do crepúsculo, não ouso questionar também, as minhas voltas, não quereria menos do que a ilusão de estar perdido no chumbo escuro do dia morto, na língua sangrenta do céu à esquerda em contraste com o mar – à direita, não quereria menos.
                O Morcego bate as suas “asas”, as suas “asas” gigantes, e não o cheguei a ver. Mesmo voando nas ondas alfa. Ou; a minha mente sendo arrebatada nas ondas alfa e eu esteja a caminhar sim a caminhar pronto. Mesmo interrompendo o meu olhar
                Adeus
                Adeus palácio de trepadeiras
                Adeus frio, griso esperado para se instalar o silêncio antes de uma nova criatura
                Adeus
                Junto ao mar. Adeus farol de línguas, adeus vómito interrompido de luz. Olá cidade nervosa, tossindo as últimas nuvens de força moribunda, má vontade de me baixar, de cócoras, puxar as calças para baixo, e cagar no meio da rua como os cães. A barba morta a cheirar a tabaco. As ondas alfa a dispersarem-se no ar tremeluzente da noite. O cu contraído, cagar.
                Adeus
                Não pretendo nada. Quero um tema maduro. Na iminência de ficar podre. Quero plantas, arbustos feitos de cobre, quero cinzas nucleares a formarem-se e redistribuírem-se pouco depois, pouco depois, na palma da minha mão. E depois quero, também quero, ao mesmo tempo quero, as minhas unhas partidas nos limites das minhas mãos estendidas, a acompanhar os braços
                Adeus
                Eu volto ao sítio onde me encontro com o cansaço, já com nome. Com a minha cama delirante, os meus lençóis à deriva e húmidos, um chão, um chão que conheço. Um chão confidente. Eu volto de noite, eu volto à noite. Na noite, eu volto. Eu regresso. Não desfalecerei ao pé de nenhuma rotunda não vou exigir responsabilidades pelo cone de merda que fiz não vou, não vou dizer o meu nome por aquilo, só volto a um chão em silêncio eu em silêncio; o chão. Eu volto.

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