terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Contraste [Replicant.]

- Já não estás com o período?

Numa praia radioactiva, um mar de gnoma, numa fábrica. Num céu lilás. Ao longe uma nave a cair. Uma nave enorme a cair. O seu metal – perfeito, curvilíneo, ligeiramente prateado e azul.
Estamos no fim de uma das estações.

- Assim já dá para te fazer minetes

As cascatas caem ao contrário. Nos olhos azuis de um humano, as nuvens viram-se e tornam-se; em Sol, saliva, as montanhas suspiram as conversas dos pinheiros,, e a luz da lua canta,
]quase[ silenciosa,
pelos bosques, e
o mundo continua, ainda

- E não precisamos do preservativo.

Um homem e uma mulher apaixonam-se. Dos olhos dele sai fogo. A mente dela é luz sólida. Mas sobre esta mulher recai uma maldição. Ou sobre este homem, ou sobre o casal. Têm um filho que nasce enquanto o tempo é compactado num sorvedouro; um vírus do futuro, um vírus mortal. Para salvá-lo, os pais mandam-no para o futuro, o único sítio onde o seu filho pode encontrar uma cura. Camadas temporais em forma de dias passam, e o bebé ainda não voltou. Decidem ir com ele. Decidem ir ajudá-lo com medo que morra, mas não conseguem. E um dia ele chega. Velho, com mais de cinquenta anos, o vírus curado e um novo Legado. “Não me fales do calor da batalha” diz ele para o pai “Eu já estive em mais guerras do que tu”.

- Ainda estou com um bocadinho de nada, só amanhã é que passa

Do quarto azul sem portas, não fugiste. Encontro-te distopiana antes de voltar a fugir. A praia tem ferrugem no lugar de areia e ácido de baterias na espuma das ondas. Há trovões quase silenciosos numa permanência ao longe. O ar está em permafrost. A lua está iluminada com as luzes dos arranha-céus na sua superfície.
(É uma forma de solidão procurar-te nas memórias e não me encontrar)
Doce solidão

- Mas queres foder assim? Achas que vale a pena? Nunca tentámos.

“oi, tu” E era só uma rua. Vapor pelas tampas de esgoto. Chineses mudos com fome embrulhados em farrapos.
Os néons... e sonhava com outras ideias, linhas em intersecção no extremo da estrada de santiago, febres teletransportadoras
Naves para me virem buscar...
“Naves grandes, gigantes, a pairar por cima de colinas cheias de relva, sem taparem o Sol para permitirem esperança, a quererem a minha mente, a minha pessoa, eu – para ir conhecer as estrelas, para conhecer civilizações sem fim, para viver para sempre, para
“usar robes imperiais
e poder lembrar-me de ti para sempre, eternamente...
(a barba por fazer como recordação da minha vida de indigente)”
[sem abrigo]

- É melhor não...
- Também acho...

Uma explosão paraláxica de luz! As árvores dobram-se como patas de aranha perante a onda de choque. Sugam a Terra (“ou são os meus olhos?”) pelo infinito do centro dobrando-a sobre si como o descolar de um jacto anti-gravitacional
,sem barulho ou mortes desnecessárias
para o espaço, para os confins das profundezas do invisível negro desolador do espaço

- Não ficas chateado? Posso-te fazer um broche



“E mesmo assim tudo o que ouvia era a tua voz. E o calor do teu sorriso e o cheiro seco do teu cabelo. E enquanto a Terra era sugada para o espaço e o Sol se matava, numa morte triste, laranja, inchando, implodindo sobre si mesmo, e mais uma parte do universo ficava na escuridão, no vazio, sem luz.... nos meus robes imperiais e na minha coroa viva sobre as minhas orelhas, e um olhar infinitamente mais sábio, lembrei-me de ti.(..) E quis salvar-te. E quis implorar aos sábios, na ponte mestra na trave central da nave matriarca do império, que resgatassem a tua vida, que te escolhessem como a mim, que pusessem a tua alma noutro corpo, que virassem o espaço ao contrário e me permitissem tecer outra teia temporal de energia para esticar o braço antes do momento final e num sopro de tempo te salvar...
A desvanecer-se

- Não, não é preciso

A desvanecer-se
Afastando-se da Terra a ser espalhada em todas as direcções em ziliões de fragmentos precisos, cada um, nos confins do espaço sideral
Longe do esquadrão das fragatas _________ a assistirem, em acto solene, à destruição de mais um planeta
Longe do sistema solar com o seu Sol, laranja, vermelho, vermelho morte, como uma chama que se apaga, a devorar-se
Longe da destruição, longe da vida, longe do tempo
Longe
mais longe
Cada vez mais longe
da luz

Um comentário:

Tigre Azul disse...

edit: temos david foster wallace (FUCK YEAH!!!!) e dan brown. james joyce/david foster wallace/dan brown. eu sabia que regressar à narrativa me ia trazer dissabores.

usei o texto replicant, ainda nesta página.