segunda-feira, 19 de julho de 2010




É difícil estar de volta. É diícil regressar.
Acima de tudo, é difícil sentir-me ainda eu num corpo estranho que abandonei há mais de ano e meio atrás, e ver que este ainda sou eu quando na verdade me sinto um estrangeiro dentro de mim mesmo - a minha obra, se pode ter esse nome, com pedaços de uma qualquer visão artística que tenha tido no passado.
Queria só fazer um post. Um simples post. E nesse periodo de tempo os meus pais separaram-se, acabei o curso, mudei de casa, senti-me frágil, senti-me humano e menos humano, senti-me muito menos humano, senti medo. Senti um medo do caraças. Senti e sinto um medo gigantesco da vida, da vida que posso ter e levar, e da vida que um dia posso nunca vir a ter, desenhada a um pormenor ainda algo exacto desde, talvez os meus treze, catorze anos.
E na verdade, penso: tem sido tudo ao contrário, e talvez não seja menos feliz assim. Ou talvez - não me sinta menos derrotado.
Mas era só um post, era só um estúpido post e algo em mim morreu. Era só um título: "tigre Azul na esfera do Labirinto de Minas".
Entretanto perdi-me.
Perdi-me completamente. Ainda gosto de escrever, mas o que é escrever hoje para mim? E o que é o que eu quer escrever? Nada de muito recomendável, pelo que parece. Eu só quero ir longe, só quero ir mais além. Não no sentido normal - vejo mesmo a literatura como uma linha contínua infinita e quero - não quero percorrer o que já vi da linha, mas sim o seu fim e criar novos inícios que perdurem depois nessa mesma linha. Talvez melhor dito, porque me recuso a apagar a metade deste parágrafo, quero ultrapassar a linha do horizonte. Escrever sobre coisas que nunca foram escritas, não parecias, temas completamente novos e novas histórias hoje ainda impossíveis. Ter ideias novas, portanto. Que se foda o estilo ou a qualidade. Só quero partir e não mais regressar, habitar os mundos que criei e posso criar e formar algo novo. Uma Mina. Um pântano de escuridões ocres. Algo mais, depois. Algo para o qual precise de inventar uma nova língua.
Há algo de tão insuportavelmente romântico nesta ideia, para mim.
Quero fazer coisas novas e sei que vou sofrer com isso. Não quero ser o melhor, o melhor é impossível. quero ser só o melhor possível. Quero ser feliz. Mas a minha felicidade passa por escrever - sempre, para sempre, até ao fim da minha vida - e deixar de escrever para sempre e poder viver até ao fim a minha vida toda. Escrever e viver - escrever como eu quero; escrever finalmente abrançando o que sou e partir para sempre de toda a gente que conheça e escrever sozinho, sem parar, para sempre, para sempre - são coisas incompatíveis. Só quero andar e ver coisas novas, voltar para casa e escrever. sentir-me envelhecer e escrevercontra o tempo. Questionar sempre sobre qual será a minha ÚLTIMA linha, o meu ÚLTIMO poema. A minha última frase. E aí terei chegado já tão longe. Aí serei já tão não mais humano, nunca mais uma pessoa. E isso deixar-me-ia tão feliz por um lado, por um grande lado.
Mas que interessa estaros nesta vida se não pudermos ser humanos?
Resta-me continuar a escrever até encontrar uma resposta.

2 comentários:

Y disse...

continua a escrever! :)

Tigre Azul disse...

sempre, claro.